Livio Oricchio

Sobre Bottas na McLaren-Honda em 2015

Livio Oricchio

01/VIII/14

São Paulo

Amigos, antes de nos divertirmos com a F1, faço uma pausa para algo bem mais sério, a saúde das crianças. O Instituto Ingo Hoffmann, destinado a jovens portadores de câncer, necessita de recursos para dar sequência ao notável trabalho que realiza. Quem desejar ser útil de alguma forma recomendo o acesso a esses dois endereços na internet. Precisamos nos mobilizar.

 

O texto de F1

As 11 equipes já enviaram à FIA o período de 15 dias escolhido para manter suas sedes fechadas nesse mês de férias, como manda o regulamento. A maioria optou por interromper suas atividades entre amanhã, sábado, e dia 16, sábado também.

Mas os diretores de alguns times não vão sair de férias a fim de aproveitar o quente verão europeu. É nessa época que as conversas com os empresários dos pilotos se tornam mais frequentes e, em alguns casos, até avançam nas negociações iniciais.

As coisas mudam rápido nesse universo que define o futuro dos pilotos na F1. O que ficou acertado hoje tem pouco valor. Às vezes, até mesmo depois de tudo estar definido, o acordo segue outro rumo. Portanto, uma fotografia do mercado tem apenas pequeno prazo de validade.

A bola da vez, agora, é Valtteri Bottas, jovem finlandês de apenas 24 anos, autor de excelente temporada, como companheiro de Felipe Massa na Williams-Mercedes. Somou depois de 11 etapas 95 pontos, com três pódios seguidos: terceiro na Áustria e segundo em Silverstone e Hockenheim. Há rumores que o apontam como candidato a correr pela McLaren-Honda em 2015.

É a típica notícia que faz todo sentido. Não é preciso ter ''fontes'' na McLaren ou na Williams para saber que Mika Hakkinen, ex-bicampeão do mundo pela McLaren-Mercedes, em 1998 e 1999, do staff de Bottas, conversa com Eric Boullier, diretor da McLaren, e Ron Dennis, sócio da escuderia.

Boullier não esconde que a escolha dos pilotos da McLaren-Honda atenderá os interesses da equipe ''a longo prazo''. Isso reduz as chances de Jenson Button permanecer. Bottas é uma opção para a McLaren, sem dúvida. O seu empresário, Toto Wolff, para quem Hakkinen trabalha, é sócio da Williams e do time da Mercedes.

Se a oferta final da McLaren for boa, e necessariamente terá de ser, Wolff terá de optar entre mantê-lo na Williams, onde está sendo decisivo no seu crescimento, e o austríaco tem interesse na elevação da Williams a time de ponta, novamente, ou liberar Bottas para Dennis.

Neste caso, Wolff ganharia bom dinheiro, pois uma porcentagem dos contratos de Bottas fica para ele. E se a McLaren evoluir a ponto de seu piloto ter chances de disputar o título, por exemplo, em 2016, ainda melhor. Bottas será ainda mais valorizado.

Espera-se que o novo grupo técnico de Dennis, com aerodinâmica, agora, nas mãos de Peter Prodromou, ex-Red Bull, produza carro para poder lutar pelo campeonato em dois anos.

Bottas é, por enquanto, apenas um dos pilotos de interesse da McLaren. Dennis e Boullier desejam, hoje, um medalhão, Lewis Hamilton, Fernando Alonso ou Sebastian Vettel. Mas o diretor francês já adiantou que uma coisa é querer e outra é poder contar com eles. Os três têm contrato com suas escuderias para o ano que vem.

Na F1 tudo é possível, claro, mas seria muito surpreendente se Hamilton, Alonso e Vettel não respeitassem o compromisso que têm. As chances de permanecerem na Mercedes, Ferrari e Red Bull são de 99%. Até que entendam de vez que não podem contar com um deles, Dennis e Boullier vão manter as vagas na McLaren em aberto.

Outro na sua lista é o francês Romain Grosjean. Também jovem, 28 anos, cresceu bastante, e tem um cabo eleitoral forte dentro da McLaren, Boullier, seu empresário e responsável por lhe dar segunda chance na F1, em 2012, na Lotus, depois do título na GP2. O alemão Nico Hulkenberg, de 27 anos (completará dia 19), da Force India, é mais um dos pilotos de interesse da McLaren.

Hoje, portanto, tudo está aberto da organização que permitiu a Ayrton Senna ganhar três campeonatos, 1988, 1990 e 1991, também quando era associada com a Honda, como será a partir do ano que vem.

Assim como a notícia de que Bottas pode vir a correr pela McLaren-Honda representa algo esperado, pelo que ambos representam, há rumores, também, que provocam risos nos envolvidos, a exemplo da eventual transferência de Alonso da Ferrari para a Williams.

Seu empresário, Luis Abad, comentou, rindo, no paddock, em Budapeste, que já havia lido que o piloto iria para a Mercedes e depois Red Bull.

''Que vai para a Williams é uma novidade'', falou. O espanhol lembrou que tanto Alonso tem compromisso com a Ferrari como esses times, Mercedes e Red Bull, da mesma forma, pelo que sabe, já haviam acertados com seus pilotos para 2015.

Alonso, Abad e a maioria dos profissionais da F1 sabem que o desafio da Williams no ano que vem vai ser bem maior do deste ano. ''Será a segunda temporada do atual regulamento, bastante complexo. Os projetistas de Red Bull, Ferrari, McLaren, Lotus, por exemplo, saberão como fazer um carro mais rápido'', disse ao UOL Esporte Pat Symonds, diretor técnico da Williams.

''Eles aprenderam com seus erros e os acertos dos adversários. Além disso, Ferrari e Renault vão produzir unidades motrizes bem mais eficientes que as atuais'', completou Symonds.

Hoje a Williams está muito à frente de McLaren e Lotus, mas perto da Ferrari e Red Bull, ainda que atrás. Com os pontos que Felipe Massa poderia ter obtido, a Williams estaria na frente. Em 2015, as quatro serão, pelos motivos expostos por Symonds, concorrentes muito mais difíceis de serem superadas.

Se houver uma chance contratual de Alonso deixar a Ferrari, por determinada meta de desempenho da equipe não ser atingida, a McLaren lhe ofereceria condições bem mais atraentes que a Williams.

Dennis e a Honda pagariam o que Abad e Alonso pediriam. A Williams não tem como competir com a McLaren-Honda, financeiramente e até no que está sendo feito para voltar a lutar pelas vitórias. De novo, o mais provável, contudo, é o espanhol permanecer onde está, na Ferrari.

Hamilton não está totalmente satisfeito na Mercedes. apesar de dispor do melhor carro da F1. Pode ser campeão do mundo, está apenas 11 pontos atrás do companheiro, Nico Rosberg, o líder, 202 a 191.

Dentro de si, porém, Hamilton não entende as dificuldades técnicas enfrentadas este ano, mais que Rosberg. Desconfia de favorecimento ao alemão Rosberg, algo negado com veemência por Niki Lauda, sócio e diretor da escuderia.

Para sair da Mercedes e regressar a McLaren alguém teria de pagar a rescisão do contrato com a equipe alemã, com um ano ainda de vigência, 2015. Não menos do valor estimado por ano, 22 milhões de euros (R$ 68 milhões), pelo menos.

Haveria, ainda, um desgaste enorme na relação entre Dennis e a direção da Mercedes, que já foi excelente, como nos títulos de Hakkinen e em 2008, do próprio Hamilton. A McLaren ainda corre com a unidade motriz Mercedes.

Com Vettel se passa o mesmo. Além do contrato existente com a Red Bull, não trocaria a esperada maior eficiência do carro da tetracampeã em 2015, já que Adrian Newey será o seu responsável e a Renault constrói uma nova unidade motriz, pela apenas promessa da McLaren-Honda.

Em Budapeste, a história que circulou pelo paddock foi a de que se Kimi Raikkonen for dispensado pela Ferrari, pouco provável, e não houver impedimento de competir na F1, como ocorreu no fim de 2009, na rescisão do seu contrato, Boullier teria interesse em levá-lo para a McLaren. Ambos tiveram enorme sucesso na Lotus-Renault em 2012 e 2013. Tem sua lógica.

Este ano a McLaren conta com o piloto mais experiente da F1, com 15 temporadas e 258 GPs no currículo, Jenson Button, 34 anos, e o jovem talentoso dinamarquês Kevin Magnussen, 21 anos.

Dennis e Boullier pensam, sim, em mudar. Magnussen tem, hoje, pausa para as férias de agosto, chances de permanecer, embora sem garantias. Já Button está com um pé para fora da histórica organização com sede em Woking, ao sul de Londres.

Com quase todas as probabilidades, a dupla da McLaren-Honda em 2015 sairá desta lista: Kevin Magnussen, Valtteri Bottas, Romain Grosjean, Nico Hulkenberg, Jenson Button e até Kimi Raikkonen.