Livio Oricchio

Felizmente a FIA usou o bom senso em Cingapura

Livio Oricchio

19/IX/14

São Paulo

Decisão sensata. Assim poderíamos definir o adiamento da proibição das comunicações via rádio capaz de ajudar os pilotos enquanto conduzem. Charlie Whiting ouviu os representantes das equipes e os pilotos no Circuito Marina Bay, ontem à noite, e diante da reação contrária generalizada a sua adoção já no GP de Cingapura tudo ficou para 2015.

Whiting alegou que a razão para estender a permissão do uso do rádio até o fim da temporada é manter a justiça na competição. O ex-mecânico da Brabham, diretor de prova da Fórmula 1 desde 1995, explicou que algumas equipes não teriam como reprojetar o volante de seus carros. O painel dos carros de Fórmula 1 fica no volante.

Como não era proibido passar informações para o piloto, muitos diretores técnicos dos times reduziram a dimensão dessas telas. E agora teriam de repensar tudo por causa de a FIA não mais permitir as conversas. Nem todos têm recursos financeiros e capacidade de reagir rápido à nova exigência do regulamento.

O alegado por Whiting realmente procede, já a havíamos citado, depois de ouvir técnicos, mas o fator mais importante para a FIA acatar o pedido das equipes e da maioria dos pilotos para adotar a mudança a partir de 2015 é a manutenção da segurança. Os chefes das escuderias mostraram que seria perigoso os pilotos irem para o grid, ao fim da volta de apresentação, sem as orientações de seus engenheiros.

Ao menos nesse primeiro GP, em que não tiveram tempo de estudar como agir sozinhos. E alguns carros parados no grid depois de os sinais vermelhos se apagarem, algo provável de ocorrer, significariam um risco bastante elevado de acidente.

A FIA foi imprudente ao proibir a comunicação sem aviso prévio, sem dar tempo aos competidores de se prepararem para a nova realidade, tudo diante de um conjunto de regras bastante complexo.

A entidade não poderia reconhecer sua leviandade ao estabelecer o fim das conversas entre pilotos e seus técnicos e por isso Whiting enfatizou, hoje, a ''justiça'' para rever sua decisão. O mais importante, porém, é que o bom senso prevaleceu e não haverá aumento dos riscos se as conversas fossem proibidas hoje.

Agora o esporte. Hoje é sexta-feira, ainda, mas ficou mesmo a impressão, já esperada, de que nos 5.065 metros da pista de Cingapura os adversários deverão estar mais próximos das Mercedes. Lewis Hamilton, Mercedes, o mais veloz do dia, foi 133 milésimos mais rápido que Fernando Alonso, Ferrari, segundo, e 300 milésimos de Daniel Ricciardo, Red Bull-Renault, terceiro.

Isso não quer dizer, por favor, que a Mercedes ainda não seja a organização com maiores chances de vencer. Significa, apenas, que a concorrência não deverá ficar tão para trás, como de hábito este ano.

''Estamos mais perto, mas acredito que eles estavam um pouco mais pesados'', comentou Ricciardo. Ele espera continuar nessa faixa de diferença para Hamilton e Nico Rosberg, amanhã, na classificação, o que daria alguma chance, segundo disse, de dependendo do andamento da corrida, tentar superá-los.

A estimativa otimista do australiano, relevação da temporada, vencedor de três GPs, Canadá, Hungria e Bélgica, baseia-se na imensa margem de estratégia que a diferença de tempo entre os pneus macios e supermacios da Pirelli vai permitir ao longo das 61 voltas da prova. Ao substituir os pneus macios pelos supermacios, nesta sexta-feira, os pilotos tornaram-se, na média, 2,5 segundos mais rápidos.

''Fomos pegos de surpresa com essa diferença'', disse Paul Hembery, diretor da Pirelli. Como pelo menos os dez primeiros no grid vão largar com pneus supermacios, por os utilizarem na classificação, amanhã, é muito provável que tenham de fazer três pit stops.

Os líderes deverão completar cerca de 10 voltas com os supermacios, e até menos, dependendo da temperatura do asfalto e de chuva antes da largada, e depois mais duas paradas para as 51 voltas restantes, sempre então com os macios. Os pneus podem voltar a ter um papel fundamental na definição do vencedor do GP de Cingapura, bem menos comum este ano se comparado a 2013.

Nico Rosberg ficou tão lá atrás, 13.º, por pegar bandeira vermelha bem na sua volta lançada, quando estava com os pneus supermacios. Perdeu a volta. Mas não muda sua condição de lutar pela pole position, amanhã.

Como Ricciardo, Vettel também acredita que a Red Bull deverá estar mais próxima da Mercedes no Circuito Marina Bay. A estreia do quarto novo chassi não impediu Vettel de enfrentar mais problemas técnicos. De novo o tetracampeão perdeu tempo importante nos boxes, na sessão da manhã, por causa de dificuldades com a unidade motriz.

Se Ricciardo e Vettel acreditam que a Red Bull será mais forte do que vimos até agora, este ano, em especial na corrida, domingo, Alonso e Kimi Raikkonen, da Ferrari, também. ''Fomos bem competitivos hoje'', definiu o espanhol. Raikkonen registrou o quarto tempo, a 541 milésimos de Hamilton. O finlandês parou o modelo F14T nos boxes com os freios dianteiros em chamas. A prova é a mais exigente para os freios junto do GP do Canadá.

Os treinos livres desta sexta-feira do GP de Cingapura emitiram sinais que confirmam a possibilidade mudanças na classificação final da corrida, nas últimas voltas, por conta do elevado peso de algumas variáveis importantes, como o elevado desgaste dos freios, dos pneus e, sem safety car, o consumo de gasolina.

Deixei a Williams-Mercedes para o fim. Felipe Massa comentou esperar um fim de semana difícil para sua equipe no evento no Circuito Marina Bay. ''Mas não tanto.'' Disse que se o grupo coordenado por Bob Smedley conseguir corrigir a falta de aderência no conjunto traseiro, ''vamos lutar por pontos''.

Ainda sexta-feira e no primeiro dia dos GPs a Williams, em geral, não estabelece os melhores tempos. Depois evoluiu bastante ao longo da competição, treinos livres do sábado, classificação e a corrida. Mas a sequência do fim de semana não deverá mesmo ser tão boa como, por exemplo, a da Áustria, em que a Williams obteve a pole position com Massa e o segundo tempo, Bottas.

No GP de Cingapura, Red Bull e Ferrari deram mostra de estarem mais rápidas que a Williams. A Mercedes também, claro.

Fiquei sabendo, lá na Europa, que a TV Globo só transmite os 10 minutos finais do treino de classificação, o Q3. E a programação que substituiu a sessão da Fórmula 1 inclui desenhos animados. Triste. E imagine que depois do futebol e da novela das 9 a Fórmula 1 representa o produto de maior faturamento da Globo. Bernie Ecclestone, quem negocia os direitos de TV, com certeza sabe o que se passa e não deve estar gostando nada da história.
Felizmente, no meu caso, um amigo italiano da Fórmula 1, um hacker, me ensinou como assistir à transmissão da Sky italiana e nas raras vezes em que não estou nos autódromos a acompanho. Conheço seus profissionais. Os recursos a sua disposição são impressionantes. Eles permitem que a Sky dê um show. Aprendo assistindo à transmissão da Sky da Itália.

Abraços!