Livio Oricchio

Max, 17 anos, estreia amanhã na F1, em Suzuka. Há riscos.

Livio Oricchio

01/X/14

São Paulo

Exatamente há um ano, Max Verstappen disputava a fase final do Campeonato Europeu de Kart nas categorias KF e KZ. Talentoso, conquistou, aos 15 anos, os dois títulos. Amanhã à noite, 23 horas na Ilha da Fantasia, 10 horas de sexta-feira no Circuito de Suzuka, Max fará sua estreia na Fórmula 1. Vai pilotar a Toro Rosso-Renault do francês Jean-Eric Vergne no primeiro treino livre do GP do Japão, 15.ª etapa do calendário.

Helmut Marko, o consultou com poder de diretor da Red Bull, dona da Toro Rosso, já anunciou que Max vai substituir Vergne na próxima temporada.

Ontem, 30 de setembro, Max completou 17 anos. Por isso será o piloto mais jovem da história de 65 anos da Fórmula 1 a pilotar um de seus carros num evento oficial. Ele é holandês, nascido na Bélgica, filho do ex-piloto de Fórmula 1, Jos Verstappen, com 107 largadas, entre 1994 e 2003. Obteve dois pódios, ambos em 1994, pela Benetton-Ford: terceiro nas provas da Hungria e da Bélgica.

Este ano Max estreou no automobilismo na Fórmula 3 europeia, egresso do kart. Saiu dos 35 cavalos para os 240 da Fórmula 3 e agora enfrenta o desafio dos 700 cavalos da Fórmula 1 num fim de semana de competição, junto de outros pilotos.

Max tem se dado bem nesse primeiro salto. Restando duas etapas para o encerramento do Campeonato Europeu de Fórmula 3, seis corridas, é o vice-líder, com 325 pontos, diante de outro fenômeno, o francês Esteban Ocon, primeiro colocado, com 402. Dia 17 de setembro Esteban completou 18 anos. Ambos venceram já oito corridas este ano.

Será a primeira vez que Max pilotará o modelo STR09-Renault, conduzido este ano por Vergne e o russo Daniil Kvyat, de 20 anos de idade.

Há duas semanas, Max acelerou o modelo de 2012 da Toro Rosso, STR07-Ferrari, no circuito de Adria, Itália, não distante da sede da equipe, em Faenza. Foram 148 voltas no traçado de 2.702 metros, sob chuva pela manhã e com asfalto seco à tarde. Segundo o diretor esportivo Steve Nielsen, Max realizou um ''treino muito bom''.

O experimento serviu para ter um primeiro contato com algo semelhante ao que pilotará amanhã e, principalmente, obter a hoje completamente desmoralizada superlicença, documento emitido pela FIA necessário para conduzir carros de Fórmula 1.

Antes dessa experiência, Max participou de um evento promocional da Red Bull nas ruas de Rotterdan, na Holanda, também com o carro de 2012 da Toro Rosso, como manda o regulamento. Só é permitido treinar com modelos usados no mínimo dois anos antes.

É por essa razão que muitos profissionais da Fórmula 1 não entendem a Honda não ter feito até agora nenhum ensaio prático de pista com a unidade motriz que vai equipar a McLaren a partir do ano que vem. Seria possível utilizar o chassi da McLaren de 2012 e ganhar quilometragem, daí também se acreditar que existe importante atraso no programa da Honda nessa sua volta à Fórmula 1.

O primeiro teste dos japoneses será realizado dia 25 de novembro, logo depois do GP de Abu Dabi, no Circuito Yas Marina.

Voltando ao tema Max Verstappen, nesse contato inicial com a Fórmula 1, em Rotterdan, acabou batendo o carro. Algo já esperado. Sem nunca ter pilotado monopostos de elevada potência e tendo os guardrails ao lado da pista de rua, seria surpreendente se não colidisse.

Max começará o treino de amanhã em Suzuka tendo já uma noção, pelo menos, do desafio que é pilotar um carro de Fórmula 1 no mais seletivo traçado do calendário, com 5.807 metros de extensão, curvas de todos os tipos e topografia acidentada, com fortes aclives e declives.

Por exemplo os dois ''S'' de alta velocidade paralelos à reta dos boxes. As duas pernas da curva Degner, de média velocidade, o Hairpin, a extraordinária Spoon, em subida, longa, de raio alternado, rápida, e a 130R, que deverá ser contornada em oitava marcha a cerca de 300 km/h. Há ainda a chicane que antecede a reta dos boxes.

Mas o que também impressiona o piloto estreante em Suzuka é a segurança. As áreas de escape são incompatíveis com a velocidade de aproximação, contorno e saída de quase todas as curvas. O desenho do traçado torna quase impossível melhorá-las, a não ser que a Honda, dona do autódromo, concorde em aterrar os lagos internos entre a reta dos boxes e os ''S'' velozes, dentre outras soluções radicais necessárias.

Em outras palavras, quando o piloto sai da pista no circuito de Suzuka em geral colide com a barreira de pneus em alta velocidade. Os estragos no carro costumam ser grandes, podendo até mesmo ferir o piloto. O atual regulamento da Fórmula 1 não permite o uso de um segundo carro, no caso de dano no titular, no mesmo dia.

Um pouco desse desafio todo para um estreante em Suzuka Max pôde sentir semana passada, na sede da Red Bull, em Milton Keynes, Inglaterra. No complexo simulador da equipe Max trabalhou por dois dias. Portanto sairá dos boxes tendo já uma ideia do traçado, embora a realidade da pista lhe mostrará ser mais difícil que o ensaio no simulador.

O jovem piloto holandês, por demonstrar ser capaz na Fórmula 3, pode até completar o primeiro treino livre do Japão, amanhã, de uma hora e meia de duração, sem sustos e inconvenientes para a Toro Rosso. Mas nunca é demais lembrar que há apenas um ano esse menino que completou 17 anos ontem competia, ainda, de kart. E agora tem pela frente nada menos de o circuito de Suzuka, com seus desafios e riscos. Mais: com outros 21 pilotos na pista.

Helmut Marko, Franz Tost, diretor da Toro Rosso e os responsáveis da FIA pela emissão da superlicença são homens que, se pode dizer, têm uma confiança acima do normal na sua capacidade de avaliar um piloto. É o que se pode concluir por liberar Max para se juntar aos colegas, mesmo sem quase experiência alguma com carros de elevada potência, bastante complexos de serem conduzidos e num circuito que está, sem dúvida, dentre os que expõem todos a maiores riscos no calendário.

Tomara que Max ratifique os dotes de um grande piloto e seu primeiro treino oficial lhe seja bastante útil, bem como à equipe.