Livio Oricchio

Novas razões por o futuro de Alonso não ser ainda conhecido

Livio Oricchio

29/X/14

Austin, Estados Unidos

Quem não tiver pecado atire a primeira pedra. Podemos recorrer a essa evocação bíblica para entender o que se passa entre Fernando Alonso e a direção da Ferrari. Acabo de chegar do Circuito das Américas. Escrevo do hotel, no centro de Austin, a capital do Texas. Aqui são três horas a menos em relação a Brasília.

Apesar da multinacionalidade dos seus profissionais e da grande extensão física ocupada pela F1 nos autódromos, esse universo do paddock é meio provinciano. O que um sabe de repente quase todos estão sabendo.

Alonso, oficialmente, é piloto da Ferrari até o fim de 2016. Como já manifestou a Marco Mattiacci sua decisão de deixar a equipe, o diretor, com o apoio de Sergio Marchionne, presidente da Fiat e da Ferrari, foi atrás de Sebastian Vettel e o convenceu a trocar a Red Bull-Renault pela escuderia italiana. Na realidade não foi preciso muito esforço.

Mas Alonso somente disse que não pretende continuar. Não assinou a rescisão. E tampouco um novo contrato com a McLaren-Honda, seu possível destino, embora as coisas possam tomar outro rumo, está assinado.

Em outras palavras, o espanhol quer receber para deixar a Ferrari. Como ele tem contrato e apenas disse verbalmente que deseja sair, se Mattiacci pretende mesmo vê-lo fora então deve pagar a rescisão do contrato. E não é pouca coisa. Estima-se que seja o equivalente a um ano de trabalho do asturiano, cerca de 20 milhões de euros, ou R$ 70 milhões.

Marchionne e Mattiacci não aceitam a argumentação de Alonso e seu empresário, Luis Garcia Abad. Já haviam dito aos dois que concordam com a saída. Era de interesse da Ferrari também que se fosse, diante do clima que há hoje no grupo. Não cobrariam nada.

E como o acerto com Vettel foi rápido, para evitar desgastes na relação com Alonso os dois dirigentes da Ferrari ratificaram, depois, a decisão de não cobrar a rescisão do contrato assinado até o fim de 2016.

Briga pode acabar na justiça

Repare que o que Alonso deseja da Ferrari é o que a Ferrari poderia exigir também, mas abriu mão por causa de já ter um substituto que consideram à sua altura e, possivelmente, de convivência mais fácil. Não querem briga com Alonso que, diga-se, fez muito pela Ferrari, apesar de não ter sido campeão. Mas andou bem mais que o carro a maior parte do tempo.

Esse é um dos problemas relacionados ao futuro de Alonso. Ele quer o pagamento da multa pela rescisão do seu contrato. É um dos fatores, o principal, de a escuderia de Maranello não anunciar o tetracampeão do mundo. Alonso adoraria ver Mattiacci tirar fotos ao lado de Vettel. É o que precisa para, se necessário, recorrer à justiça para lutar pelo que considera seu direito.

Li nos sites italianos, também, que talvez Marchionne venha aqui para os Estados Unidos. E até poderia anunciar Vettel. Se for verdade, então nos últimos dias Alonso e Marchionne fizeram um acordo. Não é essa a voz corrente hoje no paddock, mas, claro, tudo é possível.

Seria bom, em especial para o mundo dos negócios, que tudo fosse resolvido já aqui no GP dos EUA, antepenúltimo do campeonato. Para os fãs também, lógico. Estamos falando do piloto mais completo em atividade, embora muitos não gostem desse título. Eu concordo plenamente. Para mim, dentro do cockpit Alonso é o melhor.

Contrato de três anos, não obrigado

Outra dificuldade para Alonso definir seu futuro se relaciona à negociação com a McLaren-Honda, e já é conhecida. Ron Dennis, sócio e diretor da equipe, não aceita um contrato que permita ao espanhol deixar o projeto no fim do primeiro ano.

Alonso deseja ter a opção de sair da McLaren-Honda se por ventura o modelo MP4/30 apresentar desempenho distante dos mais eficientes, como são grandes as chances de acontecer, ao menos na primeira metade da temporada.

Seguir na McLaren depois, 2016 e 2017, com um carro que não lhe permita lutar pelo título representa apenas transferir seu drama da Ferrari. Por essa razão não aceita assinar o contrato que lhe permita deixar a McLaren somente no fim de 2017, quando já terá 36 anos.

Amanhã todos esses personagens, e tantos outros, vão estar no paddock e teremos mais informações, bem como de maior precisão.

Enquanto isso, Lewis Hamilton e Nico Rosberg, a dupla da Mercedes, só se preocupará no fim de semana em manter o foco na luta pela vitória e na disputa do título. O inglês ganhou as últimas quatro corridas. Apesar de na etapa de encerramento do campeonato, em Abu Dabi, dia 23 de novembro, os pontos valerem em dobro, Rosberg sabe que para ter chance de ser campeão precisa domingo e depois já no outro domingo, dia 9, em Interlagos, preferencialmente reduzir a diferença de pontos para Hamilton, hoje de 17 pontos, 291 a 274.

Vários pit stops

A boa notícia para a prova é a escolha dos pneus feita pela Pirelli, os macios e os médios. O desenvolvimento da corrida deverá oferecer várias opções de estratégia. O desgaste dos pneus pode levar a competição a ter três pit stops, o que sempre a torna menos previsível. A vantagem técnica da Mercedes, no entanto, não deve ser ameaçada no GP dos EUA, pela natureza do circuito e o notável histórico do seu fantástico carro, o modelo W05 Hybrid, este ano.