Livio Oricchio

Há lógica, sim, na Fórmula 1

Livio Oricchio

27/VII/14

Budapeste, Hungria

Se logo depois do GP da Alemanha, há uma semana, fosse solicitado a diferentes grupos de fãs da F1, espalhados pelo mundo, para opinar sobre os melhores pilotos da primeira parte do campeonato, é provável que a maioria votasse em cinco nomes.

Eles seriam: Nico Rosberg e Lewis Hamilton, a dupla da Mercedes, líder e vice-líder do Mundial, a revelação da temporada, o talentoso australiano Daniel Ricciardo, da Red Bull-Renault, a outra estrela emergente, Valtteri Bottas, da Williams-Mercedes, e, claro, o piloto mais completo em atividade, Fernando Alonso, da Ferrari, capaz de mesmo com um carro limitado obter resultados que nenhum outro conseguiria.

A seguir, por exemplo na última quinta-feira, um dia antes do primeiro treino livre do GP da Hungria, o resultado desse levantamento com os fãs da F1 seria apresentado a pessoas que não se interessam pelas corridas, tampouco se informam a seu respeito.

Iriam dispor apenas de uma lista de nomes, Nico Rosberg, Lewis Hamilton, Daniel Ricciardo, Valtteri Bottas e Fernando Alonso, familiares, lógico, por estarem sempre expostos na mídia, mas sem conhecimentos maiores sobre suas competências.

Agora o mais importante: seria pedido a essas pessoas também que confrontassem os nomes da lista com o resultado do fim de semana no GP da Hungria de F1, em Budapeste.

Temos de convir que esses cidadãos que nada têm a ver com a F1 no mínimo diriam aos promotores do jogo que foram envolvidos que o levantamento realizado com os fãs tem muita representatividade. Pois não é que os quatro primeiros colocados no GP da Hungria faziam exatamente parte da lista?

É isso, a lógica em muitas ocasiões se aplica, sim, à F1. Os pilotos e suas equipes enfrentaram, neste domingo, vários e imensos desafios. Exemplos: a competição começou com chuva, o asfalto secou, teve a entrada de dois safety cars, precisaram descobrir ali na hora qual a melhor estratégia, quantos pit stops, que pneus utilizar, dentre outras definições decisivas.

E quando o processo seletivo aumenta, as chances de os verdadeiros talentos aparecerem mais crescem junto. Menos profissionais vão passar pelo funil. Agora, apenas os mais competentes.

Pois qual foi a classificação do GP da Hungria? O já não mais surpreendente, mas uma realidade, provável futuro campeão do mundo, Ricciardo, venceu espetacularmente a corrida mais sensacional do ano até agora, Alonso pilotou muito mais que o modelo F14T da Ferrari e foi segundo, o velocíssimo, aguerrido e homem-show Hamilton, terceiro, depois de largar dos boxes, e Rosberg, cuja lucidez e regularidade impressiona até a direção da Mercedes, terminou em quarto.

Somente Bottas, dentre os pertencentes à lista dos fãs, fugiu um pouco a lógica. Mas há explicações, atenuantes: foi bastante prejudicado pela estratégia de pneus equivocada da sua equipe e teve de completar uma volta a mais para realizar o primeiro pit stop, quando o primeiro safety car entrou na pista. Bottas ficou em oitavo.

O que a F1 apresentou hoje ao longo das 70 voltas do GP da Hungria foi um desfile de seus campeões e de seus futuros campeões. Inequivocamente. Sebastian Vettel, tetracampeão do mundo, não fez parte da hipotética lista por, de fato, apesar do imenso talento, não disputar um grande campeonato. A referência é o confronto com o companheiro, Ricciardo. E aos grupos de fãs da F1 foi solicitado opinar sobre os melhores da primeira metade do campeonato.

Ricciardo, Alonso, Hamilton e Rosberg desmentiram, de forma insofismável, a máxima de que ninguém passa ninguém nos 4.381 metros do Circuito Hungaroring. Mancharam a fama da pista de oferecer quase sempre corridas definidas como ''procissões'', ou seja, a ordem dos carros na bandeirada varia pouco em relação à da largada.

Hamilton, então, rasgou todos os textos que afirmavam que no GP da Hungria só vence quem larga na frente. Começou a prova nos boxes e, por conta de sua habilidade extrema, lutou pela vitória. Cruzou 5 segundos depois de Ricciardo, apenas.

Hamilton redigiu junto com Ricciardo, Alonso e Rosberg um manual de como ultrapassar em condições potencialmente capazes de aniquilar suas corridas. Mais: como ser duro nas lutas, por vezes no limite, mas, essencialmente, leal.

Aqueles grupos de fãs da F1 que elegeram os melhores da primeira parte do campeonato devem ter amado o GP da Hungria. E parte das pessoas que nunca se ativeram, sequer, à competição, mas participantes, agora, do nosso jogo, possivelmente, daqui para a frente, ao menos estiquem seus olhos para o noticiário da F1. ''Parece ser mais interessante do que sugeria.''