Livio Oricchio

Título está cada vez mais perto de Hamilton

Livio Oricchio

21/IX/14

São Paulo

Ficou mais difícil para Nico Rosberg conquistar seu primeiro título mundial. A vitória irretocável de Lewis Hamilton, parceiro de Mercedes, neste domingo, no GP de Cingapura, associada ao seu abandono na corrida levou Hamilton de volta à liderança do campeonato.

O inglês havia chegado a Monza, há duas semanas, revoltado por não ter marcado pontos na etapa anterior, Spa-Francorchamps, na Bélgica, devido a um toque involuntário de Rosberg. E no GP da Itália Hamilton se aproveitou do erro do companheiro para vencer com tanta autoridade que era possível sentir seu melhor momento na temporada em relação ao maior adversário na luta pelo mundial.

A vitória de Hamilton no Circuito Marina Bay, hoje, com uma estratégia arrojada da Mercedes, começou a ser construída na realidade em Monza. A postura do campeão do mundo de 2008 mudou depois de Spa. E o único erro grave de Rosberg este ano, permitindo sua vitória, o deixou ainda mais forte psicologicamente para a sequência do campeonato. A segurança demonstrada hoje parece ter relação com esse aspecto.

Os pneus de Hamilton na 52.ª volta, de um total de 60, quando fez o terceiro pit stop, estavam a ponto de explodir. Não havia mais quase borracha. Eram os do tipo supermacio da Pirelli e equipavam o modelo W05 Hybrid da Mercedes desde a parada na 26.ª volta, ou seja, haviam completado 26 voltas.

Para se ter uma ideia do que isso significa, Hamilton fez o primeiro pit stop, também para substituir os pneus supermacios, na 13.ª volta. Em outras palavras, o segundo jogo de supermacios teve de suportar o dobro de voltas do primeiro. É verdade que a entrada do safety car, entre as voltas 31 e 36, ajudou Hamilton preservar os pneus.

Mas não deixa de ser uma proeza Hamilton abrir de Sebastian Vettel, da Red Bull, segundo colocado, 27 segundos entre a saída do safety car, fim da 36.ª volta, e o seu terceiro e último pit stop, na 52.ª volta. Não se esqueça de que aquele segundo jogo de supermacios já tinham 10 voltas quando o safety car saiu da pista.

Vettel tinha os pneus macios, escolhidos no segundo e último pit stop, na 25.ª volta. E os manteve até a bandeirada, na 60.ª, mas com ritmo bem lento no final, o que também não deixa de ser notável.

Com o moral nas nuvens

Voltando a Hamilton, neste domingo não apenas reassumiu a liderança do campeonato. Ele se colocou numa posição bem mais favorável que a de Rosberg para ser campeão. A diferença de pontos é quase insignificante, 3 pontos, 241 a 238, mas moralmente Hamilton está muito mais forte para as cinco etapas restantes, Japão, Rússia, EUA, Brasil e Abu Dabi.

Rosberg, ao contrário, sugere sentir o golpe numa hora decisiva da disputa.

Depois dos 12 dias de treinos da pré-temporada, este ano, ficou claro que a Mercedes dominaria o campeonato. E há um consenso na Fórmula 1 que Hamilton é mais talentoso que Rosberg. Por essa razão, as chances de o inglês conquistar o segundo título eram enormes. Mas veio o GP da Austrália, primeiro do ano, e o seu abandono combinado com a vitória de Rosberg o deixou 25 pontos atrás do líder. A temporada, portanto, começou bem desafiadora para Hamilton.

Some-se a isso o impressionante trabalho de Rosberg, piloto que evoluiu como poucos. Manteve-se quase no mesmo nível de Hamilton, mas com um ponto a seu favor: é mais inteligente, assume riscos apenas quando necessário. Hamilton é mais impetuoso, reflete menos sobre o andamento da competição.

O dobro de abandonos

Mas apesar do abandono, hoje, em decorrência de problemas eletrônicos, Rosberg não pode reclamar de nada da Mercedes. Hamilton teve bem mais dificuldades técnicas que ele. Além de abandonar o GP da Austrália em razão de pane elétrica, Hamilton foi prejudicado por falha do equipamento em três outras ocasiões.

Vale a pena lembrar: encostou o carro nos boxes em Montreal, por superaquecimento dos freios, foi obrigado a largar apenas em 20.º no GP da Alemanha, por causa da ruptura do disco de freio dianteiro direito na classificação, levando-o a acidentar-se, e terminou em terceiro.

Não acabou: na Hungria, Hamilton saiu apenas na 22.º colocação no grid porque seu carro pegou fogo na classificação, em decorrência de um vazamento de gasolina. Também se superou para receber a bandeirada em terceiro, num traçado de difícil ultrapassagem.

Já Rosberg viu duas chances de vitória comprometidas, somente, decorrentes de panes no carro, metade das de Hamilton. No GP da Grã-Bretanha abandonou quando o câmbio quebrou. E em Cingapura, hoje, por seu W05 Hybrid ficar em ponto morto antes da volta de apresentação e apesar da troca do volante o problema não ser resolvido. Só com um terceiro voltante voltou a funcionar, mas precariamente. Teve de desistir. No Canadá, a perda de potência fez Rosberg ceder a vitória para Daniel Ricciardo, da Red Bull. Foi segundo.

Rosberg perdeu a liderança num momento delicado da competição. Eis o histórico da disputa: o alemão assumiu o primeiro lugar com a vitória em Melbourne. Mas Hamilton ganhou depois quatro seguidas, Malásia, Bahrein, China e Espanha. Mesmo com Rosberg em segundo em todas, o inglês saiu de Barcelona como líder do Mundial pela primeira vez, este ano, com 100 pontos, diante de 97 de Rosberg.

Mas já na prova seguinte, o polêmico GP de Mônaco, o alemão ganhou e mesmo com Hamilton em segundo reassumiu a liderança: 122 para Rosberg, 118, Hamilton. Rosberg manteve-se em primeiro no campeonato até antes da largada, hoje, foram sete etapas. Depois dos 25 pontos no GP de Cingapura, Hamilton voltou a ser o primeiro no campeonato e deslocou para si as maiores chances de ser campeão.

Muita coisa pode acontecer nas cinco etapas restantes, como já em Suzuka, dia 5, Rosberg reassumir a liderança do Mundial, afinal apenas 3 pontos o separam de Hamilton. Mas diante do crescimento de Hamilton, por exemplo venceu as duas últimas provas, somou 50 pontos, e Rosberg, somente 18, faz sentido acreditarmos que se apresenta para a reta final mais bem preparado interiormente que o companheiro de Mercedes.

Depois do GP da Itália, minha aposta no jogo de quem será o campeão era seis fichas em Hamilton e quatro em Rosberg. Pois depois do GP de Cingapura vou um pouco além: vou tirar uma ficha do lote de Rosberg e colocá-la no de Hamilton. Assim, minha opção ficou sete fichas para Hamilton e três para Rosberg.

Consciente, porém, de que é um jogo de apostas, apenas. Não tem maior valor para projetar o que irá ocorrer. Essa distribuição de fichas revela, somente, a maior crença de que Hamilton deve ser dar melhor que Rosberg no final do campeonato, ou reúne mais elementos a seu favor.

Você tem razão por me lembrar, e o agradeço, de que no GP de Abu Dabi, último, os pontos serão distribuídos em dobro. E imagine que Hamilton tenha um problema, cometa um erro ou involuntariamente se envolva num acidente. Pode perder o título mesmo podendo ter, lá, por exemplo, uma certa vantagem na classificação.

Assim, é melhor manter bastante prudência quando se for pensar em como a temporada irá se desenvolver. Neste instante, depois da 14.º corrida do ano, Hamilton é o líder e moralmente está em vantagem, só isso. Mas como o quadro se reverteu completamente de Monza para o Circuito Marina Bay, o mesmo pode acorrer no circuito mais seletivo do calendário, Suzuka, daqui a duas semanas.

É, como sempre, outro Massa

Lembro-me de ter produzido uma reportagem onde explicava, com números, que as segundas metades de campeonato de Massa são, quase sempre, bem melhores que as primeiras. Massa está mantendo a tradição. Os carros mais rápidos no Circuito Marina Bay, na corrida, eram os da Mercedes seguidos pelos da Red Bull e da Ferrari.

Portanto, o máximo possível para Massa, em condições normais, era chegar em sétimo. Mas como Rosberg abandonou e Kimi Raikkonen, da Ferrari, ficou preso no tráfego, o potencial do modelo FW36-Mercedes da Williams era para o quinto lugar. E foi o que Massa conquistou.

Hamilton venceu, Vettel terminou em segundo, o ótimo Ricciardo, terceiro, Fernando Alonso, quarto, e então veio Massa. Assim como no GP da Itália, quando o máximo possível era a terceira colocação, hoje de novo Massa levou para a Williams o que dava.

Correu da 22.ª volta, quando fez o segundo pit stop e trocou os supermacios pelos macios, até a bandeirada, na 60.ª, com o mesmo jogo de pneus. Massa contou com a ajuda do companheiro, Valtteri Bottas, atrás de si, segurando um eventual ataque principalmente de Raikkonen, mais rápido, tornando possível o quinto lugar.

Nas últimas quatro etapas Massa conseguiu um quinto lugar na Hungria, um terceiro na Itália e um quinto hoje. É essa regularidade, esse aproveitamento máximo dos pontos possíveis, que se espera de Massa, com toda a experiência que tem, já que sua velocidade está intacta, apesar das quase 12 temporadas na Fórmula 1.

Tão logo retomou o seu melhor Massa passou a somar mais pontos que o excelente Bottas, o que mostra que tem ainda muito valor para sua equipe. O que não pode acontecer é não ser regular, apresentar as constantes oscilações que o caracterizam. Não condiz com um piloto de seus dotes de velocidade e 205 GPs de experiência. Mais: pondendo ser ainda tão útil ao grupo, conforme tem demonstrado ultimamente.