Livio Oricchio

FIA confirma: capacete de Bianchi não sofreu nenhum impacto

Livio Oricchio

Olá amigos !

Vou deixar para falar do GP da Rússia em outro texto. O meu amigo Alberto Antonini, da conceituada revista italiana Autosprint, teve acesso às primeiras informações da FIA sobre o acidente de Jules Bianchi, domingo, no GP do Japão. A mais importante: o capacete do piloto não sofreu, de fato, nenhum impacto. As fotos não exibiam o lado esquerdo, por onde sua Marussia passou sob o trator. E havia quem tivesse dúvidas se ele não poderia ter chocado a cabeça do lado esquerdo.

Quem está coordenando a investigação é o delegado de segurança e diretor de prova, Charlie Whiting. É a partir dessas observações e outras em fase de estudos que eles vão tirar suas conclusões. Eu as comento no fim. São elas:

1. Bianchi saiu da pista na curva 7 sem rodar, diferentemente de Adrian Sutil, da Sauber, na volta anterior. A velocidade de Bianchi na pista naquele instante era de 212 km/h, enquanto a do impacto no trator foi calculada como sendo pouco superior a 180 km/h.

2. A FIA destaca que antes de chegar ao ponto onde saiu da pista o piloto não reduziu a velocidade de maneira significativa, apesar da presença de cinco bandeiras amarelas agitadas nos postos anteriores. A conclusão de que o piloto não diminuiu a velocidade é baseada na telemetria da sua equipe, Marussia.

3. A bandeira verde no posto do acidente poderia ter sido evitada. O comissário de pista tinha a opção de usar a amarela também naquele local, uma vez que havia perigo ali.

4. Antes de entrar embaixo do trator, o carro da Marussia conseguiu reduzir a velocidade, ainda que não seja possível ver sinal de frenagem. Os pedais do acelerador e freio foram arrancados do lugar no impacto, mas não há sinais de problemas com os freios.

5. Apesar das alegações, o capacete do piloto estava íntegro, bem como a sua cabeça não apresentava ferimentos aparentes. Testemunhas oculares no hospital descreveram o estado do piloto como se dormisse normalmente.

Agora eu de novo.

Comecemos pelo fim. A investigação em curso da FIA acaba de comprovar que procede a impressão gerada pelas fotografias tiradas no momento em que Bianchi recebia o primeiro atendimento médico, logo em seguida ao acidente. Não havia sinal de impacto do capacete contra obstáculos.

As fotos exibem apenas o lado direito, a região frontal, com a viseira levantada, e parte da porção superior do capacete. Por não haver fotos do lado esquerdo, ainda existia quem acreditasse que o grave quadro do piloto decorresse, na realidade, de um choque com o lado esquerdo da cabeça contra o trator.

Não é o que a investigação apurou. E esse era já o esperado, já que naquela velocidade tocar, apenas, em algo, ocasionaria danos visíveis no capacete, ainda que o choque fosse no lado esquerdo, não exposto pelas fotos. A viseira, suas presilhas, enfim alguma coisa fora do lugar denunciaria um impacto em alguma área do capacete. A experiência com outros acidentes ensina ser o que ocorre. E não era o caso da imagem do capacete de Bianchi.

Agora é uma informação da FIA trazida pelo jornalista: o capacete do piloto estava inteiro, sem evidências de tocar em nada. Veja que o estudo informa, ainda, que a própria análise clínica inicial da face e do crânio de Bianchi também não mostrou lesões externas. Tudo isso só ratifica o que todos já sabem: o que causou o dano axonal difuso no cérebro foi a súbita e violenta desaceleração. E não o impacto em algo.

Vale a pena falarmos de outro aspecto importante da investigação: Bianchi não reduziu a velocidade como o uso das bandeiras amarela agitas obriga. Como tinha no seu carro pneus intermediários, chovia muito e o modelo MR03-Ferrari da Marussia não apresenta o mesmo nível de aderência do Mercedes W05 Hybrid e Red Bull RB10-Renault, os mais eficientes, as chances de o piloto francês perder o controle eram bem maiores. Como veio a acontecer.

O levantamento da FIA responde também à questão se havia bandeira amarela agitada para Bianchi, com o propósito de informá-lo de que existia perigo à frente, ou seja, um carro de serviço tirando a Sauber de Sutil da área de escape da curva 7. Sim, havia, e muitas bandeiras amarelas, de acordo com a pesquisa.

Outro aspecto é o comportamento dos comissários de pista do posto 12, da curva 7, ao lado de onde aconteceu o acidente. Eles expunham as bandeiras amarelas movimentadas, por causa do veículo de serviço que retirava a Sauber de Sutil, como o posto anterior, e de repente passaram a agitar a bandeira verde, a fim de indicar que dali para a frente a pista estava livre. Mas nesse instante o acidente de Bianchi já havia acontecido.

Eles deveriam permanecer com as duas bandeiras amarelas movimentadas por o serviço de retirada da Sauber não ter sido completado e, principalmente, existir ali um outro carro acidentado e cujo piloto, muito provavelmente, necessitar de assistência médica.

Mas não foi a bandeira verde no posto 12, em vez da amarela, que causou o acidente de Bianchi. Conforme já explicado, ela servia para informar não haver nada de errado no circuito no trecho a seguir. A informação que Bianchi tinha era a das bandeiras amarelas agitas, expostas no posto anterior ao da curva 7.

O que se espera, com essa tragédia, já que Bianchi, no caso de sobreviver, provavelmente terá sequelas importantes, é que a FIA apure com precisão tudo e reveja alguns procedimentos. O primeiro deles é deixar claro aos pilotos que no caso de bandeiras amarelas agitadas quem não obedecer será suspenso por um GP, por exemplo. E é fácil saber, basta solicitar a telemetria à equipe. Não é difícil, também, a FIA descobrir se a telemetria foi modificada.

Outro ensinamento é de evitar ao máximo a liberação de carros de serviço na pista, em especial no caso de chuva. E se isso acontecer, liberar o safety car. Vale estimular os promotores de GP a usarem o máximo possível gruas, atrás dos guardrails, em vez de tratores que são obrigados a entrar na pista. Bem, esses são procedimentos básicos e que muito contribuiriam para elevar ainda mais a já alta segurança da Fórmula 1.