Livio Oricchio

GP da Grã-Bretanha. Diário de Bordo. Capítulo 1.
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Livio Oricchio

02/VII/14

Olá amigos!

Escrevo já de Wood Burcote.

Como? Você não sabe onde é Wood Burcote? Terei ouvido certo? Você não deve ter um mapa mundi em casa, com certeza. Só pode ser isso, desculpe. Pensado bem, você talvez não tenha o mapa da Europa ou mesmo não o observou com atenção. Pode acontecer, como não?

Espera um pouco, acho que devo reduzir um pouco mais esse universo para você entender a que local me refiro. Vamos lá. Você não se ateve até hoje a um mapa da Grã-Bretanha, pronto, agora ficou melhor. Ainda está grande? Mapa da Inglaterra, tá bom? O quê, não encontrou ainda? Não pode ser, amigo.

Tente por favor a região de Northamptonshire, a Noroeste de Londres. Calma, não precisa se irritar, mesmo assim não achou a tal de Wood Burcote. Desculpe, isso eu garanto, que existe ah existe, fique tranquilo, tanto que cá estou. Verifique, por favor, a pequena Towcester e arredores.

Google, grande ideia! Vai dar certo. Dou-lhe uma, duas e… ufa, até que enfim! Aí está, Wood Burcote!

O Google não diz qual a população é? Sei, sei. Dá um tempinho, tá, vou até lá fora, conto os habitantes e venho te informar, combinado? O quê? Tudo bem, faço esse favor, nome, sobrenome e profissão deles. Já compreendi que você gosta de estatística, hein? Mas aqui não é amostragem porque a amostragem é o próprio universo de análise. Estamos falando de todos os elementos do conjunto.

Quando comecei o blog escrevi que pretendia interagir com os leitores, portanto sua reivindicação de saber o nome de cada habitante é justa, conhecer a fundo um por um dos cidadãos de Wood Burcote, sob esse princípio, faz sentido.

Estou na casa do Mike Suter, engenheiro eletrônico inglês. Imagine, já trabalhou nos submarinos nucleares. Fascinante, não? Nos conhecemos há anos. Recebe pessoas em sua propriedade quando há competição no Circuito de Silverstone. A grande vantagem de se instalar aqui é, além dos ótimos papos com o Mike, o fato de estar a poucos minutos do autódromo. São apenas 10 quilômetros.

Atualmente o acesso ao autódromo ainda não é bom, enfrentamos tráfego, mas nada que se compare ao que foi no passado. Duplicaram a estrada A43, a que liga a autoestrada M40 a Northampton. Silverstone fica no meio do caminho. Atenuou bastante as dificuldades dos fãs da Fórmula 1 e de quem vem para trabalhar no evento.

Saí de casa, em Nice, nesta quarta-feira, às 11 horas. De táxi, não precisei mais de 20 minutos para chegar ao aeroporto. Quanto paguei? 27 euros. Embarquei com destino a Londres, aeroporto Heathrow. Desembarquei no terminal mais recente, o 5, bastante funcional.

Não vi ainda como ficou o terminal 3 de Guarulhos, o novo, mas conhecendo a mente tacanha dos seus responsáveis não duvido que suas dimensões, funcionalidade e por que não elegância, afinal é o cartão de visita do País, como são outros aeroportos internacionais, não atendem as atuais necessidades.

De Nice a Londres são exatamente 1 hora e 45 minutos de voo. Do momento que o comandante deu potência máxima no A320 na cabeceira da pista ao instante que saímos da pista de pouso para taxiar já aqui na Inglaterra. Com o carro alugado, feliz por não ter perdido bom tempo na locadora, algo raro, segui no sentido da M25, uma espécie de anel viário de Londres.

Rumando ao Norte na M25, saí para entrar na M40, direção Oxford. Há quem prefira seguir na M25 até encontrar a M1, logo depois da M40, dirigir até Northampton e então virar à esquerda na A43. Eu gosto mais da M40, há menos tráfego que na M1.

Na M40, passo pela saída para Oxford, continuo em frente, direção Birmingham, até a saída para a A43. Até esse ponto, partindo do estacionamento das locadoras de veículos no aeroporto de Londres, já percorri 59 milhas, cerca de 100 quilômetros. Na A43, passo por um número impressionante de rotatórias, aqui chamadas de round about, onde invariavelmente há trânsito. Há muitos caminhões.

Você não anda 3 quilômetros sem que passe por um round about. Eles existem para evitar a construção de pontes ou passagens de nível no cruzamento das pequenas estradas que proliferam na Inglaterra. Perde-se tempo, como disse, nos round abouts.

Da saída da M40, para pegar a A43, até a porta do Circuito de Silverstone são 16 milhas, ou algo como 25 quilômetros. Mas não entrei no autódromo. Hoje, quarta-feira, fim de tarde, a sala de imprensa não está ainda aberta e tampouco há notícia no paddock. As equipes trabalham na conclusão da montagem de seus motorhomes e nos boxes os mecânicos terminam a montagem dos carros.

Passei pela entrada principal de Silverstone e segui em frente, na direção de Towcester. Ah, esqueci de falar, a A43 nos leva também, nesse caminho para o autódromo, a Brackley, pequena cidade onde a Mercedes tem a sede da sua equipe de Fórmula 1. Por fora não é suntuosa como a da McLaren, em Woking, ao Sul de Londres, por exemplo. É simples. Mas este ano produziram um carro excepcional lá.

Estamos ao lado, também, de Milton Keynes, sede da Red Bull. O quartel general da Force India literalmente faz fronteira com o perímetro da área de Silverstone. A Lotus está perto, em Enstone, enquanto Grove, sede da Williams, localiza-se a 80 quilômetros a sudoeste de Silverstone.

Quando cheguei aqui na casa do Mike e entrei na internet vi que o Tony Fernandes venceu a Caterham. A escuderia fica em Leafield, a 70 quilômetros do circuito. Colin Kolles, ex-diretor da Midland/Spyker e HRT, e o ex-piloto de Fórmula 1, Christijan Albers, Minardi e Midland/Spyker, vão comandar o time.

Quando Kolles estava na Fórmula 1, disse-me ter desenvolvido uma relação de confiança com dois jornalistas, Pino Allievi, e eu. Chegou a me mostrar as mensagens que recebia de Ecclestone, quando havia uma luta por quem comandaria a HRT. Espero que agora, de novo, continue comentando conosco sobre tudo. No fim de semana em algum momento falaremos mais do futuro da Caterham, aqui ou no noticiário do UOL.

Logo depois de conversar com o Mike, quando cheguei em Wood Burcote, fui jantar em Towcester. Pela estradinha que contornando as pequenas propriedades rurais, onde é possível ver como os ingleses gostam de ovelhas, em dez minutos estou no centro da pequena cidade, isso, Towcester. Há um restaurante lá que muita gente da Fórmula 1 aprecia, o Rice Bowl.

O seu site é este www.ricebowltowcester.co.uk/ para você ter uma ideia do que falo. É chinês. Sabe quem nos recomendou para conhecê-lo? Ayrton Senna da Silva. Jantei algumas vezes no Rice Bowl naquela época e vi o Ayrton lá, sempre na mesma mesa redonda, no canto, junto dos seus amigos. O lugar não mudou absolutamente nada até hoje.

O prato mais pedido é realmente especial: Crispy Aromatic Szechuan Duck. Para simplificar, é um pato crocante, diferente do que você provavelmente já comeu. Há fotos de muitos pilotos autografadas nas paredes. Vão lá para comer, essencialmente, o pato crocante. Inteiro custa 30 libras, ou 38 euros, 120 reais, mas atende ao apetite de três pessoas. Vá lá, como eu, duas.

Hoje não comi pato. Pedi uma carne que vem numa prancha de madeira, servida com um molho excelente. O prato chama Sizzling (Escaldante) Fillet of Beef in Kim Do Sauce. À parte veio arroz frito. A sobremesa não tem como ser outra, banana caramelizada. Bebi água mineral. Custou tudo 19 pounds, ou 25 euros, 85 reais, valor normal de um restaurante simples na Inglaterra.

Amanhã vou tirar uma fotos aqui da casa do Mike e da grande Wood Burcote e sua meia dúzia de casas. E provar que estava certo quando sugeri a você procurar Wood Burcote no mapa mundi. Vou mostrar a paisagem também, são campos lindos. Coloco as fotos aqui no Blog. O Ayrton costuma se referir a Silverstone como ''correr entre as ovelhas e as vacas''. Mas adorava o circuito.

O novo traçado preserva ainda algumas características do antigo, como as curvas Copse e a extraordinária sequência Maggotts, Becketts, Chapel, de alta velocidade, desafiadora, seletiva, emocionante. Já tive a oportunidade de andar como passageiro na pista, lentamente, apenas para conhecê-la. É bem mais larga do que parece na TV, convidativa para acelerar. Para quem sabe.

Bem, vamos lá. O Ico, da rádio Bandeirantes, e a Tatiana, da Folha, acabaram de chegar. Vão ocupar dois outros quartos da casa do Mike. O preço para se instalar aqui? O meu pacote saiu por 360 libras, ou 450 euros, 1.400 reais.

No meu quarto há uma estante com muitos livros. Na sala de estar, enorme, outra que parece uma biblioteca. Parte importante das publicações tratam de tema que adoro ler, A Segunda Guerra Mundial. O que você imaginar e nem mesmo pensar existe nessa impressionante coleção do Mike.

Às vezes, à noite, trocamos ideia sobre o conflito. Ele realmente entende do assunto. E percebo quão genérica, apenas, é a minha formação. A visão inglesa é bastante particular.

O Mike pediu um tempo para mim e apareceu com um pequeno livro na mão. Não era sobre A Segunda Guerra Mundial, mas referia-se a uma aeronave militar. O título: Vulcan 607, assinado por Rowland White. É sobre o bombardeiro inglês Vulcan, que a Royal Air Force já havia deixado de lado, em 1982, por já estar obsoleto, e de repente teve de chamar à ativa os antigos operadores do Vulcan por concluir que o bombardeiro seria muito útil na Guerra das Malvinas, com os argentinos.

''As histórias que você vai ler nesse livro são de rir. Eles foram buscar peças no ferro-velho (penso que ainda tem hífen, não?) para colocar o avião em condição de uso'', contou-me o Mike.

Não sei como vou fazer, pois trouxe duas revistas de Astrofísica e Astronomia, Le Stelle e Orione, italianas, para ler. Mas o Vulcan 607 me atraiu bastante. Lembro-me que na Guerra das Malvinas, em 1982, um Vulcan pousou em Recife, creio, sem combustível, e os militares brasileiros não o deixaram decolar antes que o conflito acabasse.

Nos encontramos aqui, no Diário de Bordo, sábado, pode ser, com as fotos de Wood Burcote?

Não está chovendo, o que já nos coloca no lucro. Mas está friozinho, uns 16 graus, normal para o verão na região de Silverstone.

A última reforma no autódromo extinguiu a pista de pouso e decolagem que ainda havia. O traçado a contornava. Originalmente eram duas pistas, criadas para treinar tripulações para os bombardeiros Halifax e Lancaster da Royal Air Force. A guerra acabou em 1945 e aproveitaram a área plana e descampada para criar o autódromo. Foi inaugurado em 1948.

Escrevi demais, desculpe. Já nos aproximamos da meia noite. Wood Burcote está quatro horas adiante do horário na Ilha da Fantasia. Boa noite, amigos, até sábado.


Convido-o para conhecer comigo um pouco da Côte d’Azur
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UOL Esporte

Olá amigos!

A partir de hoje podemos nos encontrar nesse espaço também, o meu blog, além da secção Esportes – F1 do UOL.

Aqui posso escrever em primeira pessoa, colocá-lo do meu lado no paddock, na sala de imprensa, nos deslocamentos pelo mundo e compartilhar o que estou vendo e sentindo.

Se você se manifestar, comentando os textos, aprenderei com sua leitura dos fatos, sua opinião. Tenha a certeza disso, adquiri alguma experiência com blog.

Esse compartilhamento de emoções não deixa de ser uma forma de fazer jornalismo, a diferença é que, agora, estamos juntos.

Para começar nossa história, fotografei a região onde vivo, no Sul da França. Não sou fotógrafo, mas gosto demais da arte da fotografia e me arrisco. Vocês são hoje minha cobaia.

É a primeira vez que apresento algo que registrei com minha câmara bem amadora. A profissional foi roubada num assalto à mão armada, em Campinas, há alguns anos.

Viver em Nice é estratégico para cobrir a Fórmula 1. Estamos perto de tudo, ao menos na Europa. Vou de carro às corridas de Monza, menos de três horas de viagem, Barcelona, seis horas, e se preciso voar há muita opção a partir da cidade. No máximo em uma hora e meia chego nos locais das etapas europeias do campeonato.

Nice está ao lado das badaladas Mônaco, Cannes, e a pouco menos de uma hora de carro da ainda mais exclusiva Saint Tropez. Nesse litoral Oeste há algumas praias bonitas, ao menos não são de pedra, como na orla de Nice.

Se o piso é no mínimo estranho, o Mediterrâneo com seu azul turquesa, transparente, encanta. Praticar snorkel é uma experiência maravilhosa. Acredite: a água não é fria nesses meses.

Nem todos sabem, mas além do Mar Mediterrâneo muito procurado, há a 90 quilômetros de Nice, nos Alpes, estações de esqui, como Auron e Isola 2000, bem estruturadas. Temos ainda pequenas vilas históricas lindas, como Sainte Agnès. Como disse, aqui estamos próximo de tudo.

Nessa época do ano, o verão europeu, Nice triplica sua população de cerca de 400 mil habitantes. Há gente de muitos lugares do mundo. Faz calor e raramente chove. Curiosamente à noite a temperatura cai pouco em julho e agosto, os franceses definem o fenômeno como ''canicule''. Cresci em São Paulo, com seus 760 metros de altura. Mesmo no verão a temperatura à noite é em geral agradável. Aqui, não!

Se você não tem ar condicionado é desconfortável. E é preciso saber conviver com tantos turistas que vêm para passar semanas. Tudo se torna mais difícil, concorrido. Mas nada dramático. A população árabe em Nice é importante. Eles vêm da Tunísia, Argélia e Marrocos, principalmente.

De Nice até a fronteira com a Itália dirijo por meia hora. É lá onde compro quase todos os meus alimentos, no concorrido mercado de Ventimiglia. A qualidade dos produtos é extraordinária: massas artesanais, molhos feitos pelas senhoras das lojas, queijos, vários tipos de presunto, embutidos, frutas etc. Ah, claro, frutos do mar, imprescindíveis para mim.

É tudo bem mais econômico que na França. Os franceses da Côte d'Azur, a região de Nice, vão aos milhares ao mercado da cidade italiana. O custo de vida na França é bem mais alto. Não há comerciante que não seja fluente em francês.

Prometo colocar no ar um post sobre culinária, o mercado de Ventimiglia, com preços e fotos . Fiz amigos. As hortaliças e o óleo de oliva, por exemplo, são comercializados pelos produtores. É na Itália que adquiro também minhas publicações sobre Astrofísica, Astronomia, de grande interesse, e ciência em geral.

Impressionante o que italianos e franceses publicam. Com toda a crise que aqui existe, e é séria, o desemprego é assustador, ainda assim a cultura recebe importantes investimentos. Há público.

Bem, eu poderia me estender por muito mais linhas. Mas fiquemos por aqui, hoje. Como escrevi, é a primeira vez que abordo o tema ''Viver no Sul da França'', opção que fiz há cinco anos. Ah, morar num apartamento pequeno exige também aprendizado. Mas vale a pena diante do que a região te oferece.

Se puder, diga o que pensa. E nas respostas acrescento mais informações.

Grande abraço, amigos!