Livio Oricchio

Rosberg merecia ser punido

Livio Oricchio

24/VIII/14

Spa, Bélgica

Kevin Magnussen, da McLaren-Mercedes, foi punido com a adição de 20 segundos ao seu tempo de corrida e, com isso, caiu do sexto para o 12.º lugar no GP da Bélgica, disputado neste domingo no Circuito Spa-Francorchamps.

Mas quem cometeu a maior infração do fim de semana passou impune pelos comissários desportivos da 12.ª etapa do campeonato, Nico Rosberg, da Mercedes, segundo colocado, na vitória do eficientíssimo Daniel Ricciardo, da Red Bull.

Por não ter deixado espaço a Fernando Alonso, da Ferrari, nas curvas 4 e 5, quando duelavam pelo quinto lugar na 42.ª volta, de um total de 44, Magnussen recebeu os segundos equivalentes a se cumprisse um drive through.

Mas o que mais chamou a atenção no quesito disciplina dos pilotos na Bélgica foi o fato de o acidente entre Rosberg e seu companheiro de Mercedes, Lewis Hamilton, na segunda volta, sequer entrar na pauta das discussões entre os comissários.

Poderiam até interpretar que Rosberg não foi culpado por tocar o aerofólio dianteiro no pneu traseiro esquerdo de Hamilton, comprometendo totalmente a possibilidade de o inglês marcar pontos, e ambos disputam o título mundial, mas ao menos investigassem se Rosberg poderia evitar ou não o acidente. Como é o critério atual dos comissários.

A decisão dos quatro comissários desportivos em Spa ficou ainda mais desgastada quando Hamilton, no início da noite, depois da reunião com a direção da Mercedes, para discutir a batida que custou a vitória à equipe, afirmou que Rosberg reconheceu que poderia ter evitado o choque.

Os comissários do GP da Bélgica foram o experiente ex-piloto italiano Emanuele Pirro, vencedor das 24 Horas de Le Mans, o alemão Gerd Ennser, o belga Yves Bacquelaine e o venezuelano Enzo Spano.

Em Mônaco, Rosberg simulou um acidente na curva Mirabeau, no fim da classificação, e diante da exposição da bandeira amarela naquele setor da pista ninguém pôde melhorar seu tempo, garantindo ao alemão a pole position, que se mostrou decisiva para vencer a corrida no dia seguinte.

Não houve como provar ter sido uma ação deliberada, como a grande maioria na F1 acredita, e Rosberg saiu impune. Hamilton afirmou de forma clara: ''Nico fez de propósito''.

Neste domingo, no Circuito Spa-Francorchamps, mais uma vez Hamilton foi prejudicado profundamente, agora pelo acidente com Rosberg. É bem provável que, diferentemente do GP de Mônaco, o alemão não agisse de caso pensado para atingir o duro concorrente na luta pelo título, mas ao admitir que não fez questão de não tocar no pneu de Hamilton, de novo fica caracterizada sua intenção de ser privilegiado com o incidente.

Hamilton disse no paddock de Spa que quem duvidasse de que Rosberg reconheceu não ter evitado o acidente, e poderia, que perguntasse a quem estava na reunião da equipe, como Toto Wolff, diretor geral, Paddy Lowe, diretor técnico, e Niki Lauda, diretor também.

Além das medidas disciplinares internas na Mercedes, faria todo sentido Rosberg ter sido punido pelo choque com Hamilton na segunda volta da corrida. Ali, na hora. Por muito menos inúmeros pilotos foram punidos durante as provas com um drive through ou mesmo um stop and go e até a perda de posições no grid na etapa seguinte.

Rosberg demonstrou este ano ser um piloto mais completo que muitos imaginavam até dispor de um carro vencedor nas mãos. Disputa temporada extraordinária, com quatro vitórias e dez pódios em 12 corridas. Mesmo sem o talento raro de Hamilton, é capaz, determinado e trabalhador a ponto de, como diz Lauda, no fim, obter os mesmos resultados.

Mas em Mônaco foi desonesto e neste domingo, em Spa, não pensou duas vezes diante da possibilidade de ver o adversário ser prejudicado. É um comportamento que não combina com a lisura de sua conduta na pista nas demais provas, além da velocidade e impressionante regularidade.

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Agora, lamentável é o grupo de comissários não ter sido coerente e no mínimo julgar o comportamento de Rosberg no acidente com Hamilton. Rosberg não merecia os 18 pontos que somou. E muito menos Hamilton sair de mãos abanando e ver o concorrente abrir perigosos 29 pontos de diferença (220 a 191). Os comissários, que poderiam mudar isso e tornar a disputa pelo título mais justa, inexplicavelmente não agiram.