Livio Oricchio

Análise e nota dos pilotos pelo trabalho no GP da Itália

Livio Oricchio

09/IX/14
Nice, França
Lewis Hamilton – 10
Mercedes, vencedor
Estabeleceu a pole position, venceu a corrida e registrou a melhor volta, a 29.ª de um total de 53, a mesma em que o companheiro de Mercedes, Nico Rosberg, errou na freada da Variante del Rettilifo, a primeira chicane, e permitiu a Hamilton assumir a liderança do GP da Itália.
Mais: por causa de um problema eletrônico no sistema de largada os giros do motor se elevaram acima do desejado, fazendo com que as rodas girassem em falso.
Com isso, Rosberg, segundo no grid, assumiu a liderança e Hamilton caiu para quarto, atrás do companheiro, o arrojado Kevin Magnussen, McLaren-Mercedes, em segundo, e Felipe Massa, Williams-Mercedes, terceiro.
Com uma condução segura, sem erros, sem se expor a elevados riscos de envolvimento em acidentes, esperando sempre a hora certa de atacar, Hamilton ultrapassou Magnussen na quinta volta, a quem Massa havia passado segundos antes, na Variante della Roggia, e depois Massa, na primeira chicane, na décima volta.
Hamilton, em Monza, demonstrou a tradicional velocidade que o acompanha desde o kart, mas ao mesmo tempo equilíbrio nem sempre presente. Em resumo, esteve perfeito. Só assim poderia ter sido o primeiro em tudo.
Mais do que ganhar a 13.º etapa da temporada, agora faltam seis, Hamilton se posicionou a 22 pontos, apenas, de Rosberg na classificação, 238 a 216. Dependendo do que acontecer em um único fim de semana, Hamilton pode reassumir a liderança do Mundial, perdida desde a questionada vitória de Rosberg em Mônaco.
O campeão do mundo de 2008, pela McLaren-Mercedes, coloca-se de novo na luta pelo título e possivelmente até numa posição de vantagem, apesar dos 22 pontos atrás de Rosberg. No fim de semana na Itália, Hamilton resgatou o seu melhor.
Foi possível senti-lo, depois da cerimônia no pódio, na entrevista com a imprensa escrita, estar com o moral muito alto. A lavagem de roupa suja com a direção da Mercedes e Rosberg, há pouco mais de uma semana, parece ter feito muito bem a Hamilton.
O fim de semana todo em Monza esteve sempre muito à vontade, disponível, confiante, diferente. Os resultados foram um reflexo desse estado de distensão no seu semblante. Não há dúvida.
É bem provável que Hamilton assumisse a liderança de Rosberg, mesmo que o companheiro não tivesse errado na frenagem da curva 1. A diferença entre ambos era de 7 décimos de segundo na linha de chegada na volta 28, metros antes do local onde Rosberg cometeu o equívoco.
Hamilton já podia usar o flap móvel (DRS) por estar a menos de um segundo de Rosberg, facilitando sobremaneira a ultrapassagem. O ritmo de Hamilton eram alguns milésimos melhor.
Não há onde levantar o menor questionamento sobre o trabalho do inglês no GP da Itália. Passou em primeiro em todos os rigorosos exames da F1. Leva 10 com louvor.
Nico Rosberg – 6
Mercedes, segundo colocado
Quem viu Rosberg pilotar com absoluta precisão as desafiadoras 78 voltas do GP de Mônaco, com Hamilton quase encostado no seu carro, ficou impressionado. A evolução do filho de Keke Rosberg é notável. Candidato sério do título. E se for campeão será com méritos.
Comportamentos como o da classificação, em Mônaco, provocar a bandeira amarela para garantir a pole position, e o toque involuntário em Hamilton, na Bélgica, comprometendo o resultado da Mercedes, mancham um pouco sua temporada.
Mas a regularidade impressionante de Rosberg e a sua velocidade são um dos destaques do campeonato. É bom não esquecer que o adversário se chama Hamilton, junto de Alonso e Vettel tidos como os mais talentosos na F1, ainda que esse conceito hoje talvez tenha de ser revisto.
Por essa combinação de razões é que o erro de Rosberg, no mesmo lugar, por duas vezes, a outra foi na nona volta, mas manteve-se ainda na liderança, tem sido bastante questionado. ''Errei'', assumiu. ''Estou muito frustrado'', afirmou.
Como pode um piloto que freou centenas de outras ocasiões, em situação bem mais fácil de errar, reagir com perfeição digna apenas dos grandes campeões, cometer um equívoco como o de Monza? Há quem coloque em dúvida se não foi uma ação para compensar Hamilton por tê-lo tirado da prova no Circuito Spa-Francorchamps.
O fato é que Rosberg errou. Algo quase inusitado este ano, o que explica ser o legítimo líder do Mundial. O alemão não é do tipo de se deixar afetar por uma experiência inesperada. Mas nunca se sabe. Justificou o erro em Monza com a pressão de Hamilton, com sua aproximação para lutar pela liderança.
Em Mônaco e depois no Canadá essa pressão foi ainda pior e havia guardrails dos dois lados da pista, a centímetros do asfalto. E Rosberg levou para casa duas brilhantes vitórias.
Daqui para a frente, já na próxima etapa, por exemplo, nas ruas de Cingapura, dia 21, não será diferente. Hamilton pilota como poucos em circuitos de rua e chega embalado pelo sucesso em Monza e seu estado de espírito por tudo ter ficado claro, agora, dentro da Mercedes.
Para Rosberg manter as chances elevadas de conquistar o título pela primeira vez, como fez seu pai, em 1982, não poderá errar daqui para a frente. Hamilton parece ser, agora, um adversário mais preparado. E a diferença entre ambos é perfeitamente possível de ser recuperada pelo inglês que tem, nesse momento, a faca entre os dentes.
Felipe Massa – 10
Williams-Mercedes, terceiro colocado
O máximo possível para Massa na corrida, domingo, era o terceiro lugar. As duas Mercedes tinham um ritmo melhor que todos, como em geral tem ocorrido este ano. E Massa obteve o máximo. Portanto, não há o que dizer do piloto desta vez.
Como de hábito largou muito bem, foi hábil e, essencialmente, teve a cabeça no lugar para não arriscar tudo na defesa de posição para Kevin Magnussen, na primeira chicane. Sabia dispor de carro para recuperar a posição perdida. Como veio a fazer. Ultrapassou o dinamarquês sem maiores dificuldades na Variante della Roggia na quinta volta.
Depois, em segundo, não colocou uma roda fora da trajetória, conduzindo com extrema precisão, sem submeter o modelo FW36-Mercedes a esforços extras, bem como os pneus médios e depois duros da Pirelli.
Foi inteligente também ao resistir no limite do risco possível quando Hamilton o ultrapassou, na décima volta, ao contornarem juntos a primeira parte da primeira chicane. Sabia que se não fosse naquele momento o inglês o deixaria para trás mais adiante.
A Williams tinha o segundo melhor carro do GP da Itália, não o primeiro. E os 5.793 metros de Monza permitem ultrapassagem, em especial com o uso do DRS.
Deu outra prova de maturidade ao passar a administrar o ritmo depois de algumas voltas do pit stop único, na 23.ª volta, ao compreender não poder chegar na dupla da Mercedes bem como, em condições normais, ser atacado pelo companheiro, Valtteri Bottas, atrás de si, quarto colocado.
Massa fez no GP da Itália o que se espera de um piloto com a experiência de 204 GPs, já vice-campeão do mundo, em 2008, e que, ao menos quanto à velocidade, não emite sinais de tê-la perdida. É provável que se vivesse as mesmas situações de domingo, em Monza, em outros momentos este ano, antes da férias, por exemplo, quando parecia não ter o mesmo equilíbrio de agora, não conseguiria o indiscutível terceiro lugar, a primeira colocação entre os normais.
Mesmo com tantos anos de F1, sempre há o que evoluir. E que esse avanço, essa clareza de ideias, essa lucidez demonstrada em Monza, na compreensão do que a corrida está exigindo, se transfira para as demais seis etapas que restam do campeonato. Isso redimensionaria sua temporada. O contrato ratificado para 2015 também ajuda. Massa é o tipo de homem que faz com que ninguém torça contra.
O piloto e o diretor de operações da Williams, seu velho amigo Rob Smedley, afirmaram depois do pódio: ''Outros pódios virão daqui para a frente''. É o que a torcida de Massa espera, que o convincente pódio em Monza tenha esses poderes desbloqueadores de sua capacidade.
Valtteri Bottas – 9
Williams-Mercedes, quarto colocado
Disputou um corridaço. Cruzou a linha de chegada no fim da primeira volta em 11.º enquanto no grid ocupava o terceiro lugar. Largou mal, essa a verdade. Rob Smedley, depois da prova, disse não existir, a princípio, nenhum indício de problema com o sistema de largada da Williams.
As rodas patinavam e o carro não saía do lugar. Bottas provavelmente não seguiu o procedimento correto de largada, bem como não aqueceu os pneus conforme deveria, segundo Smedley.
Mas aí seu talento se manifestou e foi ultrapassando um a um até chegar em quarto. No seu pit stop, na 24.ª volta, a Williams não foi tão eficiente como com Massa, haja vista que Bottas parou em quarto e regressou à pista em nono.
Teve de ultrapassar de novo quem já havia deixado para trás, como Sergio Perez, da Force India, o sempre lutador em extremos Magnussen, Sebastian Vettel, Red Bull.
Bottas andou sempre no limite do FW36-Mercedes sem errar e para evitar um toque que poderia comprometer o resultado seguiu reto, na primeira chicane, na luta com Magnussen, na 30.ª volta.
Depois de 13 etapas, este ano, Bottas demonstrou excepcional velocidade associada a surpreendente visão geral de corrida e maturidade ao tomar as decisões, definidas ali na hora, ainda no calor da disputa. Esta é apenas a sua segunda temporada na F1.
A impressão generalizada no paddock é que a competição descobriu, este ano, dois pilotos que serão campeões do mundo em breve, Bottas e o notável australiano Daniel Ricciardo.
Daniel Ricciardo – 10
Red Bull-Renault, quinto colocado
Assim como Massa obteve o máximo possível, atrás apenas das duas Mercedes, Ricciardo fez o mesmo ao terminar o GP da Itália em quinto, depois das duas Mercedes e das duas Williams.
Vê-lo pilotar gera prazer já em muita gente. No começo da corrida deu a impressão de que desta vez a torcida não assistiria a novo show, com nas duas vitórias nas duas provas anteriores a Monza, Hungria e Bélgica.
Começou o GP da Itália apenas na nona colocação no grid, por seus pneus não aquecerem como deveriam, e é provável que teve responsabilidade nisso, e cruzou a primeira volta somente em 12.º, por também não ter dado uma grande largada.
Fez ultrapassagens espetaculares, como sobre Perez na Variante della Roggia, na 40.ª volta, para assumir o sétimo lugar, dando um drible no adversário, e a em Vettel, na 46.ª volta, no mesmo local, para ser o quinto colocado, classificação final.
A F1 tem uma atração a mais, este ano, independente de quem vá vencer as provas: o desempenho de Ricciardo e de Bottas. E ambos têm, apenas, 25 anos, recém completados. Provavelmente ambos deverão estar na luta pelos títulos nos próximos bons anos.
Sebastian Vettel – 6
Red Bull-Renault, sexto colocado
Vive uma crise. E a razão chama-se Daniel Ricciardo. É menos eficiente com o modelo RB10-Renault da Red Bull. Ponto. Com o carro de 2015, muito provavelmente bem mais eficiente que o atual, por causa, principalmente, da nova unidade motriz da Renault, Vettel deve equilibrar mais a disputa com o companheiro. É o que se espera do tetracampeão do mundo.
Vettel não criou nada ao longo das 53 voltas, não apresentou nenhuma manobra espetacular, como algumas das ultrapassagens de Ricciardo, e tampouco foi tão aguerrido. Não é capaz de tirar a mesma velocidade do RB10 que Ricciardo, falta-lhe confiança para ser contundente como o australiano. Confiança que lhe sobrava nos últimos quatro anos com as características dos carros da Red Bull.
Largou em oitavo e burocraticamente recebeu a bandeirada em sexto. Deve rezar todos os dias para o campeonato acabar e a próxima temporada chegar logo.
Sergio Perez – 8
Force India-Mercedes, sétimo colocado
Correu muito bem, sempre muito combativo, desta vez sem expor os demais a riscos maiores, com fez em algumas ocasiões este ano, quando defendia sua posição. Seu carro lhe permitia ficar atrás dos pilotos da Mercedes, da Williams e da Red Bull. E foi o que fez.
Como Massa e Ricciardo, Perez obteve o máximo possível. Está ofuscando o companheiro este ano, o alemão Nico Hulkenberg, piloto tido como um injustiçado por não estar, ainda, num time potencialmente vencedor.
Jenson Button – 7
McLaren-Mercedes, oitavo colocado
Combativo, quer permanecer na F1, tirou o que o carro da McLaren permitia. Disputou com Perez um duelo longo e empolgante. Com o ''não, obrigado'' de Fernando Alonso, Lewis Hamilton e Sebastian Vettel a Ron Dennis, sócio e diretor da McLaren, as chances de Button seguir na equipe em 2015 cresceram.
Kimi Raikkonen – 5
Ferrari, nono colocado
Tudo bem que falta velocidade final para o modelo F14T da Ferrari e em Monza isso é um limitador importante para a performance. Mas Alonso dispunha do mesmo carro e, pela projeção da prova, o espanhol estaria lutando com Vettel pelo sexto lugar se não tivesse abandonado na 28.ª volta, pela primeira vez na temporada, por um problema no sistema de recuperação de energia.
Raikkonen não foi a sombra do piloto que no circuito Spa-Francorchamps, dia 24, disputou grande corrida e chegou em quarto, na frente de Alonso, sétimo. Quando não dispõe de um bom carro, a exemplo de Monza, fica anos luz atrás de Alonso. Já com um monoposto veloz e equilibrado é um adversário difícil de ser vencido.
O caso de Monza se enquadrava mais na primeira categoria. Raikkonen participou da corrida, não disputou a corrida.
Kevin Magnussen – 8
McLaren-Mercedes, décimo colocado
Em primeiro lugar, muito questionável a punição ao supercombativo e jovem dinamarquês de apenas 21 anos de idade. Na 30.ª volta, Bottas iniciou o contorno da primeira perda na primeira chicane por fora de Magnussen, mas foi para a área interna, fora da pista, para não bater na McLaren. O dinamarquês não lhe deixou espaço.
Com a velocidade com que contornava a curva, mesmo que Magnussem virasse o volante para a direita, a fim de deixar maior espaço a Bottas, o carro provavelmente não atenderia. Na F1 as velocidades de contorno são quase sempre as permitidas pelo limite de aderência. Quem parece ter forçado a manobra foi Bottas e não Magnussen, o que é o seu direito.
O finlandês não desrespeitou nada. Bem como Magnussen. A manobra do piloto da McLaren não era passível de punição. Foi uma luta natural de corrida. Com os cinco segundos a mais no seu tempo Magnussen caiu de bom sétimo lugar para injusto décimo. Na 36.ª volta, no mesmo local, Bottas ultrapassou Magnussen para assumir o quinto lugar.
Em algumas ocasiões, este ano, Magnussen agiu além do limite para defender sua posição. Compreensível para um menino talentoso que não sabe, ainda, se vai estar na McLaren em 2015 e deseja mostrar serviço. Mas em Monza Magnussen foi tenaz sem desrespeitar nada. A punição é mais um exemplo da paranoia que tomou conta da F1 ao analisar eventuais culpados por nada.