Público paga e não vê o espetáculo. Não há pneus. É ridículo!
Livio Oricchio
Silverstone, sábado, 5 de julho de 2014
No caminho aqui para o autódromo de Silverstone, vi muitos grupos de torcedores andando sob chuva, vento e frio, estamos com 14 graus Celsius. Com suas mochilas nas costas os fãs da Fórmula 1, em especial na Inglaterra, não medem esforços para estar nas arquibancadas ou mesmo nas imensas áreas de grama do extraordinário circuito.
Escrevo da sala de imprensa. São 10h23. Faltam 17 minutos para encerrar a sessão livre deste sábado. Chove, como invariavelmente ocorre nesta região, Northamptonshire. Há dois carros na pista: Steban Gutierrez, da Sauber-Ferrari, e Jules Bianchi, Marussia-Ferrari. Espera, Bianchi acaba de bater na barreira de pneus na Stowe, lentamente, só encostou.
A razão de escrever o post é que os demais 20 pilotos estão parados nos boxes. Deram duas, três, quatro voltas, devagar, para entender o que vão enfrentar à tarde na classificação, provavelmente sob chuva também, e regressaram aos boxes.
Sabe por quê? Essencialmente em razão de o regulamento permitir a cada piloto apenas três jogos de pneus de chuva e quatro do tipo intermediário para todo o fim de semana de competição. E se os pilotos os utilizarem agora não terão para a definição do grid, daqui a duas horas e meia, e principalmente as 52 voltas da corrida, amanhã, onde a previsão também é de tempo chuvoso.
Os milhares de fãs, e esses são realmente fãs, nas arquibancadas ou já na lama, diante de tanta água, estão assistindo a o quê? Nada. Nenhum carro passa a sua frente. Pagaram e não receberam o produto.
Esse é mais um erro grave dos homens que pensam a Fórmula 1. Impressionantemente não se sensibilizam com a necessidade de atender às expectativas da torcida. Decidem as coisas e não levam em conta as consequências para o espetáculo.
Paul Hembery, diretor da Pirelli, já se pronunciou várias vezes ser contra essa política de limitação severa dos pneus. É ruim para sua empresa também. A imagem que passa é de a Pirelli não disponibilizar a quantidade necessária de pneus. E por isso a pista está vazia. Do ponto de vista esportivo, é uma situação ridícula. Estamos falando da Fórmula 1!
Conter custos é imperioso, todos concordam, até os fãs. Aqui mais ainda por terem um elevado grau de consciência de como funciona a Fórmula 1. Mas um jogo de pneus de chuva e dois intermediários a mais, por exemplo, evitariam essa situação e não haveria custo extra para as equipes, a não ser dos quilômetros de prosseguirem treinando e não manter os carros parados nos boxes. Mas se não puderem arcar com isso é melhor ficar em casa. Vai disputar a GP2.
As 11 equipes têm o mesmo contrato com a Pirelli. Cada uma paga 1 milhão e 250 mil euros por temporada. Esses três jogos de pneus a mais que a FIA e todos os representantes dos times têm de autorizar não implicaria pagar mais pelos pneus. E a fornecedora da Fórmula 1 já se manifestou a respeito. Os valores não mudam. É do seu interesse também.
A Fórmula 1 está perdendo público, nos autódromos e principalmente na audiência televisiva por conta de seus responsáveis não enxergarem o que está na sua frente.
E se você acha que o que está ocorrendo aqui, agora, em Silverstone, vai levar os gênios que pensam a Fórmula 1 a pelo menos refletir sobre a questão, refiro-me ao desprezo aos fãs, engana-se. Aí reside o mal, como já disse: indiferença com quem sustenta o show!
Abraços!