Mario Andretti: “Se Mercedes não for campeã seus diretores vão se matar”.
Livio Oricchio
05/IX/13
Monza, Itália
Pense na corrida mais famosa do mundo, as 500 Milhas de Indianápolis. A categoria de maior prestígio, a Fórmula 1. Outra competição de monopostos repeitada e desafiadora, a Fórmula Indy. Mais: uma prova com carros de Endurance famosíssima, 24 Horas de Daytona. Seguindo: a disputa esportiva que reúne maior público no planeta, a Nascar norte-americana.
E se existisse um piloto vencedor em todos esses eventos? Seria, então, um superpiloto eclético, não? E não é que ele existe? Nesta quinta-feira, no circuito de Monza, o UOL Esporte conversou com exclusividade com o italiano de nascimento, norte-americano por opção, Mario Andretti, 74 anos de velocidade nas veias!
Os italianos o chamam de ''Piedone'', ou pé pesado. Os norte-americanos lhe deram o título de piloto do ano em três décadas distintas, em 1967, 1978 e 1984, para se ter uma ideia da longevidade da eficiência de Andretti.
''Eu amava pilotar, é isso'', disse, rindo, ao UOL. ''Eram raros os fins de semana em que não estava na pista. Não descansava nunca.'' Mas apenas participar não é garantia de sucesso. Andretti competia e em 109 ocasiões, por onde passou, venceu.
''Meu objetivo nunca foi apenas ser veloz. Procurava entender o funcionamento de cada carro que pilotava, e em razão de correr em tantos eventos suas características eram bem distintas. Amava descobrir como conduzi-los de maneira a tirar sempre o máximo'', explica Andretti.
Essa paixão associada à capacidade notável de tirar velocidade de qualquer veículo, no nível máximo, como disse, o levou a ganhar as 500 Milhas de Indianápolis em 1969, vencer quatro campeonatos da Indy, tornar-se campeão do mundo na Fórmula 1 pela Lotus, em 1978, celebrar a vitória nas 24 Horas de Daytona, em 1972, e na Daytona 500 da Nascar,em 1967.
Sempre acessível, está em Monza para promover o GP dos EUA de Fórmula 1, em Austin, no Texas. Entregou o conhecido chapéu texano aos pilotos da Red Bull, Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo, e os entrevistou para chamar os norte-americanos para a 17.ª etapa do campeonato, dia 2 de novembro. ''Se você fizer uma pesquisa entre os pilotos verá que a corrida de Austin é favorita da grande maioria'', disse-lhe Ricciardo.
Sobre o presente, Andretti comentou estar se divertindo. ''Quando vi a mudança do regulamento da F1 para este ano, temi que seria um campeonato sem emoção. Graças a Deus Nico Rosberg e Lewis Hamilton estão no mesmo nível de performance, esses dois galinhos têm nos dado corridas divertidas.''
O norte-americano acredita que depois da bronca conjunta da direção da equipe Mercedes, após o GP da Bélgica, os dois não vão se eliminar de novo das provas. No circuito Spa-Francorchamps, dia 24, Rosberg tocou o aerofólio dianteiro no pneu traseiro esquerdo de Hamilton, comprometendo o resultado do time. O inglês abandonou mais tarde e Rosberg ficou em segundo.
''Eles estão agora sob severa vigilância. Imagina a responsabilidade dos homens da Mercedes. Suponha que seus pilotos se eliminem e, no final, Ricciardo conquiste o título. Eles vão se matar'', falou Andretti, rindo. Trata-se de uma situação pouco provável de ocorrer, mas não impossível, com o critério de pontos em dobro na 19.ª etapa e última, em Abu Dabi, dia 23 de novembro.
Hoje, depois de 12 etapas, Rosberg lidera com 220 pontos, seguido por Hamilton, 191, e Ricciardo, terceiro, 156. Cada vitória garante 25 pontos ao vencedor. Ricciardo está 35 pontos atrás, apenas, de Hamilton. Pelo critério de pontos em dobro, o vice-campeonato, hoje, seria matematicamente possível.
Apesar de o regulamento deste ano surpreendentemente estar gerando provas emocionantes, na opinião de Andretti, o Piedone não concorda com vários de seus pontos. ''Tome como exemplo a corrida aqui de Monza, domingo. Se não tivermos um safety car, os pilotos terão de administrar o consumo de gasolina. Não dá para disputar a prova com 100 quilos de combustível e tirar tudo do carro o tempo todo.''
Esse modelo não é o que a F1 adotou na maior parte de sua história, lembra. ''Defendo que na F1 o piloto possa exigir o máximo a corrida inteira, o que não será o caso aqui.'' Mas essa limitação não o impede de sonhar. ''Adoraria pilotar um desses carros de hoje, descobrir o que é essa tecnologia, a interatividade exigida. Sempre me interessei em pilotar a última palavra em automóveis de competição.''
É um fã de alguns campeões da atual geração. ''Não entendo não o colocarem dentre os maiores que competiam em outras épocas. Fernando Alonso, Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, por exemplo, são tão brilhantes quanto os grandes de outras eras.''
Dentre as grandes satisfações obtidas no automobilismo Andretti destaca o fato de ter gerado descendentes apaixonados por velocidade. O filho, Michael, foi campeão da Indy, em 1991, e tem equipe na categoria, Andretti Motosport, onde corre seu filho, Marco, neto de Mario Andretti. Em 2006, Marco foi segundo nas 500 Milhas de Indianápolis e em 2010 e este ano, terceiro. Na temporada passada Marco terminou o campeonato em quinto.
''É uma imensa alegria ver meus descendentes na pista, com a minha mesma paixão'', afirma Mario.