Análise e nota dos pilotos no GP da Rússia
Livio Oricchio
15/X/14
São Paulo
Lewis Hamilton – 10
Mercedes – Vencedor
Hamilton teve outro fim de semana perfeito na Rússia. Sempre o mais veloz, preciso, alheio às pressões de fim de campeonato, largou na pole position e venceu. Como havia feito na Itália, em Cingapura e no Japão, três provas anteriores.
A série de quatro vitórias seguidas o deixou em boa condição para poder ser campeão. Soma 17 pontos a mais do adversário, Nico Rosberg, companheiro de Mercedes, 291 a 274. Restam as etapas de Austin, no Texas, dia 2, do Brasil, 9, e de Abu Dabi, 23, todas em novembro.
Depois de lavar a roupa suja com a direção da Mercedes, em seguida à corrida da Bélgica, quando abandonou depois de ser tocado por Rosberg, Hamilton se estabilizou emocionalmente. As quatro vitórias são uma decorrência dessa harmonia interior, nem sempre presente no seu caso. E esse momento favorável o está levando a poder ser campeão pela segunda vez. A primeira foi em 2008, com a McLaren-Mercedes.
Nico Rosberg – 8
Mercedes – 2.º colocado
Foi, na média, de 2 a 3 décimos de segundo mais lento que Lewis Hamilton em todo o fim de semana no Circuito de Sochi. Reconheceu, depois, a maior velocidade do concorrente ao título na Rússia.
Na tentativa de ultrapassá-lo ainda logo depois da largada, talvez a única chance de vencê-lo, Rosberg, segundo no grid, cometeu um erro na primeira freada, obrigando-o a substituir os pneus macios pelos médios no fim da primeira volta. Os mais indicados para os 5.848 metros da pista russa eram os macios.
Mas com sua tocada homogênea, constante, a partir da parada nos boxes, Rosberg levou o notável modelo W05 Hybrid da Mercedes até a bandeirada, ao final da 53.ª volta, sem parar mais. E na penúltima incrivelmente estabeleceu a melhor volta da corrida, superado na seguinte por Valtteri Bottas, da Williams-Mercedes, terceiro.
O alemão da Mercedes deu uma aula de como sair da última colocação e chegar em segundo, com um único jogo de pneus e não sendo os mais indicados. O traçado do Circuito de Sochi demonstrou não ser dos mais fáceis para os pilotos realizarem ultrapassagens, mas Rosberg sempre encontrou maneiras de não perder tempo demais atrás de adversários mais lentos, levando-o a cruzar a linha de chegada a apenas 13 segundos atrás de Hamilton.
Apesar do excelente trabalho depois do erro na primeira volta, o que emergiu do GP da Rússia é que Rosberg está se deixando atingir, psicologicamente, pela perda da liderança no Mundial, em Cingapura, quando enfrentou pane elétrica no carro e Hamilton venceu. O alemão vem cometendo equívocos de avaliação, o que não acontecia até então. E na hora errada. Pode lhe custar o primeiro título na carreira
Valtteri Bottas – 9
Williams-Mercedes – 3.º colocado
Na sessão de classificação, vinha numa volta absolutamente fantástica, estabelecendo as duas primeiras melhores parciais do circuito, mas na última curva escorregou demais e perdeu a chance de surpreender a dupla da Mercedes e ser o mais rápido.
Largou em terceiro. O máximo possível na corrida era terminar em terceiro. Não havia como pensar em desafiar Hamilton e Rosberg, donos do carro mais veloz e confiável. Bottas, por sua vez, dispunha do melhor equipamento depois da dupla da Mercedes, a Williams era mais veloz que a McLaren, competitiva na Rússia, Ferrari e Red Bull.
Dessa forma Bottas correu para obter o que era possível, porém sem deixar que Hamilton sumisse a sua frente, para que no caso de alguma dificuldade do inglês ele lá estivesse para herdar o primeiro lugar. O finlandês de 25 anos foi rápido, como sempre, lúcido, como de hábito, e chegou em terceiro, outro pódio, o quinto na temporada.
A classificação do Mundial reflete sua competência: é o quarto colocado, com 145 pontos, depois da dupla da Mercedes e de outra agradável revelação, Daniel Ricciardo, da Red Bull, 199. Com um carro capaz de lutar com a Mercedes, como a Williams espera ter em 2015, Bottas é piloto para disputar o título.
Jenson Button – 9
McLaren-Mercedes – 4.º colocado
Se o seu objetivo era impressionar Ron Dennis e Eric Boullier, os homens que vão decidir quem vai pilotar a McLaren-Honda em 2015, possivelmente ao lado de Fernando Alonso, Button com certeza tem deixado os dois com a pulga atrás da orelha. Quem manter como titular no ano que vem, o campeão do mundo de 2009, pela Brawn-Mercedes, ou o novato e promissor Kevin Magnussen?
Button esteve dentre os melhores em Sochi durante todo o fim de semana, provando que com um carro eficiente é capaz ainda de ser veloz, regular, dar os pontos possíveis para aquele equipamento, além de contribuir muito para o desenvolvimento da equipe com a sua enorme experiência. Estreou na F1 ainda na temporada de 2000 e já disputou 263 GPs. Dennis e Boullier devem estar pensando se é mesmo interessante dispensá-lo no fim do ano.
Kevin Magnussen – 8
McLaren-Mercedes – 5.º colocado
Por ser o seu primeiro ano na F1, realiza bom trabalho. Na Rússia correu sempre muito próximo de Button, o que é uma referência importante para avaliar o seu desempenho, pois o inglês esteve muito bem em Sochi.
Esse dinamarquês de apenas 21 anos tem, hoje, a preferência da direção da McLaren para, no caso de Alonso assinar com o time, ser o seu companheiro em 2015. Magnussen é veloz, ninguém questiona, aguerrido como poucos e demonstra potencial para evoluir significativamente. E é este fator que está fazendo Dennis e Boullier penderem para o seu lado.
Fernando Alonso – 8
Ferrari – 6.º colocado
A Ferrari deu a impressão nos treinos livres de que poderia talvez pensar em lutar pelo terceiro lugar na corrida. Mas não foi o que aconteceu. Só mesmo o talento de Alonso a faria, quem sabe, lutar pelo quarto ou quinto lugar com os pilotos da McLaren e Red Bull. E foi o que aconteceu.
O espanhol correu como podia, tirou até um pouco mais do que o modelo F14T oferecia, como sempre. Mesmo de saída da Ferrari, Alonso segue dando o máximo de si. É criador de casos, tem personalidade obsessiva, mas é piloto excepcional.
Uma referência para entender o que faz com um equipamento limitado é verificar seus números depois de 16 etapas, amostragem representativa: Alonso soma 141 pontos, ocupa o sexto lugar, enquanto o companheiro, o também capaz Kimi Raikkonen, conseguiu 47 pontos e é o 12.º colocado. Há entre os dois impressionantes 94 pontos de diferença.
Daniel Ricciardo – 8
Red Bull-Renault – 7.º colocado
O modelo RB10-Renault era mais rápido que o F14T da Ferrari. Mas na frente desse notável australiano estava Alonso. Resultado, Ricciardo não conseguiu ultrapassá-lo para tentar lutar com Kevin Magnussen pelo quinto lugar, o que parecia possível em Sochi.
Ricciardo não erra, é rápido e um piloto agregador na equipe. Depois de entender o bem precioso que têm nas mãos, a grata descoberta deste ano, Helmut Marko e Christian Horner, da Red Bull, não criaram nenhuma resistência para segurar Sebastian Vettel. Ricciardo tende a ser o líder do grupo em 2015, com a ascensão de Daniil Kvyat para a vaga de Vettel.
Na Rússia Ricciardo tirou o que dava do carro que, em nenhum momento, se mostrou competitivo. De novo dominou a disputa com o companheiro Vettel, apesar da má largada, permitindo ao alemão ultrapassá-lo. Mas é mais eficiente em corrida que Vettel, este ano, e acabou na sua frente.
Sebastian Vettel – 6
Red Bull-Renault – 8.º colocado
Com um carro difícil como o da Red Bull no Circuito de Sochi, a pouca adaptação de Vettel às reações do modelo RB10 ficaram ainda mais evidentes. Esteve mais distante que Daniel Ricciardo do bloco dos mais competitivos, depois da inatingível Mercedes, formado por McLaren e Ferrari.
Vettel deve estar dando Graças a Deus de o campeonato se aproximar do fim. Tudo o que deu certo para ele nas últimas quatro temporadas está, agora, dando errado. Viu sua reputação de piloto genial, construída com uma série de conquistas impressionante, e legítima, ser arranhada com a perda regular da concorrência para um novato num time vencedor, Ricciardo.
Em 2015 vai correr na escuderia dos seus sonhos, a Ferrari, e provavelmente irá dispor de equipamento bem mais eficiente que o usado este ano por Alonso e Raikkonen. É bem possível que será mais feliz na Ferrari, no ano que vem, ao lado de Raikkonen e não de Ricciardo. Mas se a Ferrari de fato construir um carro mais veloz e constante que o atual, o finlandês é também um adversário difícil de ser vencido, como demonstrou na Lotus em 2012 e 2013, por exemplo.
Kimi Raikkonen – 5
Ferrari – 9.º colocado
Quando o carro não responde como gosta acusa o golpe bem mais que Alonso e mesmo de outros pilotos. O finlandês parece não ter interesse em dar o máximo, chamar para si a responsabilidade por uma melhor performance se o modelo a disposição tem severas limitações, como o F14T.
Correu para cumprir tabela, sem arriscar nada, sem esforços maiores. E, claro, não foi além no nono lugar, quase 20 segundos atrás do companheiro, sexto.
Sergio Perez – 7
Force India-Mercedes – 10.º colocado
Tem corrido melhor que Nico Hulkenberg, seu parceiro. Em Sochi não foi diferente. Largou em 13.º e chegou em 10º, enquanto o alemão saiu da 12.º posição no grid e recebeu a bandeirada em 12.º.
Perez foi aguerrido, como sempre, a exemplo de sua luta com Felipe Massa, Williams, em boa parte da prova. Sem ser desleal em nenhum instante. Num time mais estruturado e com a maturidade adquirida, Perez provavelmente seria capaz de obter bons resultados.
Felipe Massa – 5
Williams-Mercedes – 11.º colocado
A possibilidade de um esperado quarto lugar na Rússia, algo bem possível diante de a Williams ser a segunda força em Sochi, quase desapareceu na classificação, quando um problema no sistema de alimentação de combustível não o permitiu avançar. Largou em 18.º, apenas.
Ousou na estratégia, com deveria, pois arriscar uma estratégia diferente era o que lhe restava para surpreender, mas não funcionou. Parou para substituir os pneus médios pelo macios, os mais indicados, ainda no fim da primeira volta. A ideia era seguir até a bandeirada. Mas na 28.ª volta, de um total de 53, precisou fazer um segundo pit stop para colocar outro jogo de macios.
Em resumo, esteve o tempo todo com os pneus de melhor desempenho no GP da Rússia e não conseguiu crescer na classificação como, por exemplo, Rosberg, que trocou os macios pelos médios, de menor performance.
É inquestionável que o problema na classificação teve influência na possibilidade de Massa ser, como foi dito, o quarto colocado. Mas não seria o caso de nos perguntarmos se não dava mesmo para se livrar do tráfego durante a corrida? Será que não havia meio algum de ultrapassar Perez, por exemplo, dispondo de uma Williams mais rápido, sem dúvida, que a Force India?
O que emerge dessa 16.º prova do Mundial é que Rosberg estava na mesma posição de Massa na pista no início da corrida, pois ambos pararam juntos, mas com pneus menos favoráveis, e somou 18 pontos de excelente segundo lugar. E a diferença de performance da Mercedes para a Williams, na Rússia, não justifica o fato de Massa ter sido apenas o 11.º, conforme o desempenho de Bottas, com o mesmo modelo de Massa, comprova.
Na Rússia Massa produziu menos de nas três corridas anteriores, Itália, Cingapura e Japão, quando esteve bem.