Se mantiver a tradição, Massa será mais eficiente na 2ª metade do Mundial
Livio Oricchio
05/VIII/14
São Paulo
Se o histórico de Felipe Massa nas segundas metades do campeonato servir de referência para o que irá produzir nas sete etapas restantes da temporada, a começar pelo próximo GP, na Bélgica, dia 24, o piloto da Williams-Mercedes se sairá bem melhor do que até a corrida de Budapeste, quando a Fórmula 1 entrou de férias.
Observando apenas os números, nas 11 provas disputadas este ano, Massa somou 40 pontos e ocupa a nona colocação no Mundial. A referência maior para julgar seu trabalho, o companheiro de Williams, Valtteri Bottas, foi mais eficiente. Soma 95 pontos e é o quinto na classificação.
Massa, contudo, tem uma característica um tanto particular: suas segundas metades de campeonato são, na maioria das vezes, melhores ou bem superiores às primeiras.
Depois da corrida no Circuito Hungaroring, há nove dias, o UOL Esporte perguntou a Massa se havia alguma explicação. ''Sei lá, não sei.'' Ao seu lado estava o ex-piloto de F1, hoje na Stock Car e comentarista da TV Globo, Luciano Burti. ''É verdade, Felipe?'', perguntou. ''Você sabia disso?'' Massa respondeu com a cabeça afirmativamente.
No ano passado, por exemplo, do GP da Austrália ao GP da Hungria, dez etapas, Fernando Alonso, companheiro de Massa na Ferrari, somou 133 pontos. Massa, 61. A diferença entre ambos foi de 72 a favor do espanhol. Já nas nove corridas restantes, Alonso contribuiu para a Ferrari com 109 pontos e Massa, 51. A diferença foi de 58 pontos. Menos dos 72 iniciais.
Em 2012, a reação de Massa chegou a incomodar Alonso, habituado a ser muito mais eficiente que o companheiro. Antes das férias de agosto, Alonso tinha 164 pontos diante de apenas 25 de Massa, diferença de 139 pontos, enorme. O asturiano contribuiu com 86,77% dos pontos da Ferrari. Massa, 13,22% somente.
Mas a partir da volta da F1 às atividades, em Spa-Francorchamps, Massa somou nas nove etapas finais 97 pontos. Alonso, 114. A diferença caiu de 139 pontos na primeira parte a aceitáveis 17 na segunda. A participação de Alonso na produção da Ferrari foi de 54,02% e a de Massa, 45,97%.
O máximo da evolução de Massa na segunda metade da temporada ocorreu em 2008, quando, com sua Ferrari, terminou vice-campeão do mundo. Perdeu o título para Lewis Hamilton, da McLaren-Mercedes, por um ponto, 98 a 97. Mas o começo do campeonato de Massa foi tão difícil que provavelmente Stefano Domenicali, diretor da equipe, começou a pensar se renovaria o contrato para 2009.
O companheiro de Massa em 2008 era Kimi Raikkonen, campeão do mundo na temporada anterior, também com Ferrari. Da prova de Melbourne à da Hungria, 11 etapas, Raikkonen fez 57 pontos e Massa, 54. O finlandês contribuiu com 51,35% dos pontos da Ferrari. Massa, 48,64%.
Mas a partir do GP da Europa, em Valência, Massa conquistou 43 pontos diante de 18 de Raikkonen. Participação de 70,49% contra 29,50% do finlandês.
Atribuir apenas ao acaso a melhora do desempenho de Massa na segunda metade da temporada seria simplificar demais as estatísticas e fugir à realidade dos fatos. Por ser já um comportamento repetitivo, provavelmente não se trata apenas de coincidência.
Uma possível explicação seria o desenvolvimento dos carros. No início do campeonato seu comportamento quase sempre é menos equilibrado que na segunda fase, quando os projetistas têm já melhor compreensão das necessidades para melhorá-lo.
E Massa é um piloto que quando dispõe de um carro mais veloz e equilibrado, como em geral ocorre à medida que a temporada avança, se torna bem mais eficiente. Com um monoposto de reações bruscas, capazes de impedi-lo de frear bem próximo às curvas e exigir ações violentas no volante para mantê-lo na trajetória, Massa perde, por exemplo, para Alonso. E por muito.
Outro fator é o psicológico. O período de férias permite reflexões mais profundas sobre o que se passa nas pistas. É provável que Massa disponha na mente de um quadro mais claro de suas dificuldades, qual o diagnóstico e o que fazer para reverter a situação desfavorável, ou pelo menos atenuá-la.
No caso da disputa com Alonso, um fator decisivo para aproximar-se do companheiro foi assumir que o espanhol é mais capaz de ser rápido e constante com os carros que a Ferrari construiu de 2010 a 2013. Parece ter sido essa resignação que colaborou para Massa, em 2012, reduzir uma diferença de 139 pontos na primeira metade do ano para somente 17 na segunda.
Alonso continuou sendo melhor, é mais completo, mas dentro de parâmetros compatíveis para pilotos com nível para competir numa escuderia potencialmente vencedora, como a Ferrari.
Talvez fosse o caso, agora, de entender que Valtteri Bottas é bastante talentoso, tem apenas 24 anos, está com a faca entre os dentes e busca sua afirmação na F1 como um futuro campeão do mundo. Já Massa, aos 33 anos, 12 anos de experiência, 202 GPs, um vice, 11 vitórias e 16 poles no currículo, não precisa provar nada mais.
Para manter a tradição de disputar a segunda parte do campeonato melhor que a primeira, talvez a saída para Massa fosse a de, como fez com Alonso, canalizar todas as suas energias para vencer Bottas, mas quando o companheiro se mostrar mais rápido não permitir que isso o desestruture emocionalmente, como ocorreu em algumas ocasiões este ano.
As acusações a todos por tudo refletem sua necessidade para encontrar culpados para a diferença nos resultados para Bottas, enquanto ele próprio, em alguns casos, tem responsabilidade no ocorrido.
A diferença de pontos, agora, depois das 11 etapas, é de 55 pontos. Massa acabou envolvido em acidentes que lhe tiraram pontos, inquestionável. Alguns sem que tivesse culpa, como Austrália e Grã-Bretanha, mas em outro, Alemanha, onde poderia ter evitado.
Se Massa tomar como exemplo a temporada de 2012, em que saiu de 13,22% de participação nos pontos da Ferrari na primeira metade do ano para 45,97% na segunda, mesmo que no fim Bottas ainda fique a sua frente, como fez Alonso, terá sido já uma excelente reação.
Para isso terá de aceitar, caso Bottas continue mais eficiente, que o seu papel não será o de ter de chegar na frente do companheiro a qualquer preço. Quando não for possível, receber a bandeirada próximo de Bottas não representará, para o momento e a realidade de cada um, nenhum demérito.
A Williams lhe seria muito grata. E a temporada de Massa teria um desfecho bem melhor que na primeira parte, como manda sua tradição.