Livio Oricchio

Aposto que a corrida de Cingapura será emocionante

Livio Oricchio

20/IX/14

São Paulo

Até agora, o GP de Cingapura tem se desenvolvido como se esperava, com Red Bull-Renault, Ferrari e Williams-Mercedes bem mais próximas da Mercedes, a equipe de referência este ano. Vamos ver como será amanhã, ao longo das imprevisíveis 61 voltas da corrida no Circuito Marina Bay, de 5.065 metros e 23 curvas. Continuo acreditando que a Mercedes tem apenas um pouco mais de chances de vencer do que Red Bull, Ferrari e Williams.

Neste sábado, na definição do grid da 14.ª etapa do campeonato, Lewis Hamilton, da Mercedes, estabeleceu a pole position, com Nico Rosberg em segundo, apenas 7 milésimos de segundo mais lento. Mas os adversários desta vez chegaram bem perto. Por um momento, deu até para pensar que Hamilton e Rosberg talvez não fossem largar em primeiro e segundo.

No fim, o excelente Daniel Ricciardo, da Red Bull, terceiro, ficou a 173 milésimos de Hamilton. Seu companheiro, o tetracampeão do mundo Sebastian Vettel, quarto, a 221 milésimos do inglês, Fernando Alonso, Ferrari, quinto, a 226 milésimos, e um surpreendente Felipe Massa, Williams, sexto, a 319 milésimos.

Tudo isso sugere ser pouco provável que Hamilton e Rosberg se aproveitem de largar na primeira fila para impor grande diferença de performance para Ricciardo, Vettel, Alonso e Massa, por exemplo. A diferença de desempenho entre o modelo W05 Hybrid da Mercedes e seus adversários mais diretos parece ser menor no Circuito Marina Bay, por conta de as retas serem curtas e haver o maior número de curvas dentre todas as pistas do calendário.

Os dois dias de competição até agora nos mostraram que a maior ou menor adaptação dos carros ao circuito explicam muito o resultado de hoje, na sessão que definiu o grid do GP de Cingapura. Mas amanhã outros fatores vão entrar em cena de maneira mais decisiva. O principal deles são os pneus. A Pirelli levou para a quente e úmida prova os pneus macios e os supermacios.

Deu para ver nos treinos que a degradação do supermacio é elevada. Oferece uma aderência impressionante, cerca de dois segundos mais rápido que o macio. Mas ao mesmo tempo não garante muito mais de 10 voltas de autonomia, ao menos num ritmo minimamente desejável.

Então teremos uma corrida onde a diferença de performance dentre os oito primeiros no grid deve ser pequena e uma variável decisiva na equação que apontará o vencedor, os pneus. Digo oito primeiros por colocar nessa balança também o sétimo na classificação, Kimi Raikkonen, a 489 milésimos de Hamilton, e o oitavo, Valtteri Bottas, da Williams, a 506 da pole position.

Raikkonen teve problemas no software da unidade motriz e Bottas errou na primeira curva, na última tentativa, quando o circuito estava mais rápido. Mas para a corrida tanto um como o outro deverão estar no máximo de sua condição.

Fiquei impressionado, hoje, com o número de vezes que Rosberg consultou a equipe. Foi uma surpresa. Esperava maior independência do alemão que disputa extraordinário campeonato. Estou com a impressão de que a ameaça séria de Hamilton o está afetando.

E olha que estreou no GP de Cingapura uma tênue proibição sobre os pilotos receberem orientação dos engenheiros. A partir de 2015, sim, não mais serão permitidas.

Abordo o tema para lançar nessa equação que apontará o primeiro colocado da corrida, amanhã, a restrição de a escuderia informar seu piloto sobre alguns temas, como o desempenho do companheiro, a exemplo do ocorrido nas 13 etapas anteriores. E na prova mais longa da temporada, quase duas horas, e cheia de alternativas.

Nós falamos que será desafiador administrar a degradação dos pneus nos 305 quilômetros do GP. Mas há ainda a questão dos freios, bastante séria, e até do consumo de combustível, crítico se não houver ao menos um safety car.

Ricciardo comentou que antes de começar os treinos havia dito que se ficasse a dois ou três décimos dos pilotos da Mercedes, nesse circuito, poderia pensar em talvez superá-los. Hoje, depois de ser apenas 173 milésimos mais lento de Hamilton, a revelação do ano afirmou: ''Eu me classifiquei com uma diferença ainda menor. Agora o que temos a fazer é dar uma boa largada e escolhermos uma estratégia eficiente''.

A estratégia de corrida será muito importante no GP de Cingapura. Três pit stops parece ser a que a maioria irá adotar.

As duas Mercedes vão largar na primeira fila e as duas Red Bull na segunda. A seguir está Alonso. ''Esse quinto tempo é um resultado diferente do habitual, a diferença para o pole position é realmente pequena. Eu me senti confortável no carro desde o início e isso tem a ver com as características da pista. Amanhã a confiabilidade do equipamento e a administração dos pneus serão decisivos'', disse o espanhol.

Depois, falando para a TV, afirmou: ''A possibilidade de outro pódio é real''. O notável piloto de Oviedo foi terceiro no GP da China e segundo no da Hungria.

Em resumo, amigo, espero uma corrida com muitas mudanças de posições e até mesmo surpresas dentre os primeiros colocados. Hamilton vem mordido para reduzir ainda mais a diferença de 22 pontos para Rosberg (238 a 216).

O determinado Ricciardo, para aproveitar que o traçado ajuda o modelo RB10 da Red Bull e tentar ganhar da Mercedes sem que eles tenham problemas. Vettel, para dar sequência a série de três vitórias no Circuito Marina Bay, nos últimos três anos.

E Alonso vai querer manter a tradição de sempre se dar bem no GP de Cingapura: venceu em 2008, com Renault, e em 2010, Ferrari. Em 2009, também na Renault, ficou em terceiro. Em 2011, Ferrari, quarto, e no ano passado, também no time italiano, segundo. Alonso é ainda mais eficiente no Circuito Marina Bay.

A volta de Massa no fim do Q3 foi espetacular. A Williams saiu de uma condição bastante desfavorável, ontem, para a de fazer o FW36-Mercedes poder pensar em lutar pelo pódio. Massa e Bottas têm possibilidade de disputar uma bela prova.

O GP de Cingapura tem tudo para não ser daquelas disputas em que quase nada acontece. Pelo contrário, estou me preparando para acompanhar uma prova cheia de alternativas e, claro, emoção. Tomara que seja mesmo assim.