Livio Oricchio

Análise e nota dos pilotos no GP de Cingapura

Livio Oricchio

22/IX/14

São Paulo

Lewis Hamilton – 10

Mercedes – Vencedor

Pole position, líder praticamente da largada à bandeirada e autor da melhor volta. Isso foi o que fez Lewis Hamilton no fim de semana no Circuito Marina Bay, a exemplo do que já havia realizado duas semanas antes no GP da Itália, sendo que em Monza com o companheiro de Mercedes, Nico Rosberg, na pista.

No GP de Cingapura o alemão mal conseguiu largar e depois abandonou, por causa de um problema na fiação elétrica que controla as muitas funções expostas no volante do carro.

O mais impressionante na performance de Hamilton nos 5.065 metros do traçado de 23 curvas de Cingapura foi o ritmo imposto do momento da saída do safety car, na 37.ª volta, até a 52.ª, quando fez seu terceiro e último pit stop. O inglês havia parado nos boxes na volta 26, segundo pit stop. E colocou os pneus supermacios usados da Pirelli. Reforço: usados. Já tinham algumas voltas da sessão de classificação, no sábado.

Exigiu tudo deles até a volta 31, instante em que o safety car foi acionado para recolher as muitas partes da carenagem e aerofólio dianteiro de Sergio Perez, Force India, tocado pela Sauber de Adrian Sutil. A ineficiência dos responsáveis pela limpeza impressionou. Não usavam vassoura, mas as mãos, apenas. Resultado: o safety car teve de permanecer na corrida até o fim da volta 36. Algo sem sentido, considerando-se a causa do seu uso.

Hamilton foi avisado que teria de abrir 27 segundos para depois fazer a última parada e ainda vencer Sebastian Vettel, segundo colocado, e Daniel Ricciardo, terceiro, ambos da Red Bull-Renault, e até Fernando Alonso, Ferrari, quarto. Este havia aproveitado o safety car para o terceiro e último pit stop, na 31.ª volta.

Com aqueles pneus supermacios usados Hamilton começou a voar. É bem verdade, também, que contou com a ajuda da estratégia de Vettel e Ricciardo, por exemplo. Ambos já estavam com os pneus macios e não mais precisariam parar nos boxes, ao menos para atender o regulamento. Começaram a prova com o supermacio e já no segundo pit stop, nas voltas 25 e 27, passaram para o macio.

Para ir até a bandeirada na 61.ª volta (na realidade 60.ª, para atender o limite de duas horas de corrida) com aqueles pneus, Vettel e Ricciardo administraram sua velocidade. Isso ajudou Hamilton abrir os 27 segundos que precisava, o que não tira o mérito do piloto da Mercedes. ''Meus pneus traseiros não existem mais'', disse à equipe, pelo rádio, na 51.ª volta.

O time o chamou para os boxes. Já tinha os 27 segundos. Não daria a liderança de novo, mas com os macios novos, como colocou, seria muito mais veloz que a dupla da Red Bull, com pneus em uso desde as voltas 25 e 27.

Hamilton voltou à pista atrás de Vettel, em segundo. Mas na volta seguinte já o ultrapassou com extrema facilidade para liderar novamente o GP de Cingapura e, com o abandono de Rosberg, reassumir o primeiro lugar no campeonato. Ele tornou-se líder depois do GP da Espanha, perdeu na etapa seguinte, Mônaco, e agora saiu de Cingapura como líder de novo.

E no melhor momento possível da temporada, na sua reta final. Não há nada definido, ainda, pois está apenas 3 pontos à frente de Rosberg, 241 a 238, mas seu estado de espírito e a autoconfiança demonstrados em Monza em no Circuito Marina Bay sugerem que suas chances são maiores que as do companheiro de melhores resultados daqui para a frente.

Mas assim como o quadro mudou em duas corridas, nada impede de Rosberg voltar a se impor no campeonato. Sua evolução como piloto é rara. Associa velocidade com regularidade e inteligência. É inegável, porém, que assim como depois do GP da Áustria a vantagem moral e na classificação era de Rosberg, agora é de Hamilton.

Depois da etapa de Spielberg, oitava do calendário, Rosberg liderava o Mundial com 165 pontos diante de 136 do adversário. Sua vantagem era de 29 pontos. Agora, após a 14.ª etapa, Hamilton está 3 pontos na frente.

A próxima corrida será em Suzuka, no Japão, o circuito mais difícil do campeonato, pela natureza variada e espetacular de suas curvas e o desafio de correr, quase sempre em alta velocidade, com reduzidas áreas de escape.

É preciso ser corajoso para exigir tudo do carro nos 5.807 metros de Suzuka. O piloto sabe que se bater não haverá área para desacelerar o carro. Os impactos são sempre violentos e, por vezes, perigosos. E nesse sentido não representa nenhum exagero afirmarmos que Hamilton assume mais riscos, regularmente, que Rosberg.

Sebastian Vettel – 9

Red Bull-Renault – 2.º colocado

Andou no limite do modelo RB10 o tempo todo segundo a sua estratégia e não cometeu erros, em condições bem difíceis, por causa de seus pneus simplesmente acabarem nas dez voltas finais. Mesmo assim sua imensa capacidade de piloto o levou a não permitir nenhuma tentativa de ultrapassagem do companheiro, Ricciardo.

Ter ganhado a posição de Ricciardo na largada foi fundamental para terminar na sua frente. O australiano era o terceiro no grid e Vettel o quarto. Ele o ultrapassou ainda na primeira curva.

Vettel havia vencido as três edições anteriores do GP de Cingapura e, domingo, aproveitou-se das características da pista para disputar sua melhor corrida na temporada, bem como obter o melhor resultado. Com Rosberg fora da prova desde o início, o máximo possível era o segundo lugar e foi o que obteve.

Daniel Ricciardo – 8

Red Bull-Renault – 3.º colocado

Disputou grande classificação, terceiro, ao ficar a apenas um décimo de Rosberg, segundo. Mas não largou bem, apesar do lado melhor da pista, e perdeu a terceira colocação para Vettel. Se há uma manobra que Ricciardo precisa evoluir é a largada. Demonstrou um talento enorme, este ano, mas suas largadas por vezes quase comprometem tudo nas provas.

Correu dentro do que o RB10 permitia e no fim tinha os pneus em melhor estado que os de Vettel, um dos seus pontos fortes na temporada. Mas não atacou o companheiro como se esperava. Christian Horner, diretor da Red Bull, não pediu nada a Ricciardo. Em Cingapura disputou outro grande GP, mas sem ser, desta vez, espetacular.

Fernado Alonso – 8

Ferrari – 4.º colocado

Antes de falar do GP, vale a pena comentarmos sobre o momento da Ferrari. ''É tenso'', inequivocamente. É o que podemos concluir da declaração de seu diretor, Marco Mattiacci, na entrevista depois da bandeirada. O italiano responde dessa forma à pergunta sobre se Alonso permanecerá na Ferrari: ''Ele tem contrato conosco até o fim de 2016. No momento, sim''.

Tenho amigos italianos com grande vivência na Fórmula 1 e, em geral, bem informados das coisas da Ferrari. Mattiacci está impressionado com as exigências de Alonso para continuar na Ferrari. Eles começaram a discutir a extensão do contrato. E Alonso colocou as garras de fora, aproveitando-se do conceito unânime na Fórmula 1 de que ele faz a diferença nas corridas.

O problema maior nem é o valor solicitado por Alonso. Hoje ganha cerca de 2 milhões de euros por mês, ou R$ 6,5 milhões. Alonso quer mais. O que mais impressionou Mattiacci são as exigências do espanhol, os direitos que deseja ter na equipe, quase tão grande quanto o de Mattiacci. Essa é a razão de o italiano ter respondido ''No momento, sim''.

Não há indícios de que Alonso saia no fim desta temporada. Ir para onde? As escuderias para quem amaria pilotar, Mercedes e Red Bull, não têm vaga. A McLaren-Honda paga quanto ele quer. Mas duvido que Ron Dennis concorde com as exigências de interferir na direção do time. Mais: Alonso está cansado de não dispor de um carro vencedor. E as chances de a McLaren não tê-lo em 2015 são bem maiores do que dispor de um grande monoposto.

Voltando, a relação de Alonso com a direção da Ferrari, nesse instante, é desgastante para ambos. Mas será surpreendente se decidir aceitar o convite da McLaren-Honda. Pouco provável. Não impossível, claro.

Sobre sua performance no GP de Cingapura, faz todo sentido o que afirmou: ''Sem o safety car nós tínhamos grande chance de terminar em segundo''. Uma volta antes de o safety car ser acionado, Alonso ocupava o segundo lugar, 5 segundos atrás de Hamilton, líder, e com 5 segundos de vantagem para Vettel, terceiro.

O piloto da Ferrari parou nos boxes com a entrada do safety car enquanto a dupla da Red Bull não. Mesmo com a Ferrari F14T mais rápida que o RB10 de Vettel e Ricciardo o espanhol não teve chance de ultrapassá-los. Sem o safety car Alonso, Vettel e Ricciardo parariam mais uma vez. E não seria difícil para o piloto da Ferrari manter-se à frente de ambos.

Alonso correu como sempre, mais que o carro, embora no fim talvez fosse possível um ataque mais contundente a Ricciardo e Vettel.

Felipe Massa – 9

Williams-Mercedes – 5.º colocado

É incrível como as suas segundas partes de temporada são melhores que as primeiras. Você viu Massa colocando uma roda fora da pista no fim de semana? E olha que o modelo FW36 da Williams, sexta-feira, estava inguiável. Os pneus traseiros superaqueciam. Depois a impressionante capacidade de a equipe, este ano, reagir com precisão transformou seu comportamento no sábado e domingo.

Massa foi da volta 22 até a 60 com o mesmo jogo de pneus macios. Pilotou com consciência do que tinha exatamente o que fazer para a estratégia dar certo. Mesmo tendo o companheiro Bottas atrás de si o tempo todo, querendo ganhar sua posição, ainda que não tenha tido nenhuma chance de aproximar-se de fato.

No fim, Massa preservou melhor os pneus que Bottas, que havia feito o segundo pit stop e colocado os macios, como Massa, uma volta depois, na 23.ª. Nas últimas quatro etapas Massa somou 35 pontos, de um quinto lugar na Hungria, terceiro na Itália e outro quinto domingo. Nas dez etapas anteriores, Massa somou 30 pontos.

No sábado, sua volta de classificação impressionou. Massa vive seu melhor momento no campeonato e em Suzuka, dia 5 de outubro, onde o piloto pode fazer diferença, pela seletividade dos 5.807 metros da pista, é possível esperar ainda mais do piloto da Williams, o circuito favorece o modelo FW36. Desde que o Massa que se apresente no GP do Japão seja o Massa que vimos a partir do GP da Hungria.

Jean-Eric Vergne – 9

Toro Rosso-Renault, 6.º colocado

Que corridaça disputou esse francês que já sabe que não permanecerá na equipe em 2015. O holandês Max Verstappen, hoje com 16 anos, o substituirá, numa completa demonstração de inutilidade por parte da FIA da sua tão propagada superlicença. Você sabia que os pilotos pagam 10 mil euros de taxa base e depois mil euros por ponto para receber da FIA a superlicença?

Hoje, restando ainda 5 provas para o encerramento do campeonato, Hamilton já sabe que terá de pagar 251 mil euros (241 + 10). Uma loucura! E para o que serve esse documento se um menino sem experiência alguma com carros de mais de 230 cavalos, ao menos hoje, vai estrear na Fórmula 1 em 2015?

Voltando a Vergne. Largou em 12.º, por ter errado na classificação, como reconheceu, aproveitou-se da adaptação do modelo STR 06 ao circuito, menos exigente de potência, e parece que pretendeu demonstrar a Helmut Marko, homem-forte da Red Bull, dona da Toro Rosso, que quando dispõe de um bom carro é capaz de grandes resultados.

O sexto lugar foi o melhor que a Toro Rosso conseguiu este ano. Vergne tinha dois oitavos, na Austrália e no Canadá. E seu parceiro, o novato Daniil Kvyat, três nonos, Austrália, Grã-Bretanha e Bélgica.

A gana de obter um belo resultado foi tanta que Vergne acabou punido duas vezes, por falta de uma. Teve de cumprir 5 segundos a mais nos pit stops por ultrapassar os adversários usando as áreas de escape das curvas, fora do limite da pista. Deixou Cingapura como um dos pilotos de destaque da prova.

Sergio Perez – 9

Force India-Mercedes – 7.º colocado

Outra bela performance do mexicano. Foi quem mais fez pit stops: 4. Rápido, tenaz, sem errar, está fazendo muita gente pensar se o alemão Nico Hulkenberg, seu companheiro, é mesmo um piloto tão capaz como se acredita. Regularmente Perez tem se mostrado mais eficiente.

Em Cingapura, largou apenas em 15.º e apesar da parada extra nos boxes, para substituir o aerofólio dianteiro destruído por Adrian Sutil, a ponto de gerar a entrada do safety car, chegou em ótimo sétimo. Nas voltas finais, após a quarta parada, na 44.ª volta, com um jogo de pneus novos ultrapassou vários adversários com autoridade.

Perez está crescendo na Fórmula 1. O respeito ao seu trabalho hoje é outro, se comparado ao momento em que foi dispensado da McLaren, no fim do ano passado. Precisa evoluir muito ainda nas voltas lançadas. A classificação é o seu ponto fraco. Vale lembrar que no GP de Bahrein, quando o modelo VJM 006-Mercedes ainda não tinha ficado tão para trás no desenvolvimento em relação aos concorrentes, Perez conquistou o terceiro lugar.

Kimi Raikkonen – 5

Ferrari – 8.º colocado

Faz parte das atribuições de um piloto, não apenas da equipe, de posicionar-se na corrida de forma a evitar situações que comprometam um melhor resultado na corrida. É verdade o que o finlandês alega, perdeu quase a prova toda atrás de Massa e depois Bottas, cuja Williams, no GP de Cingapura, era mais lenta que a Ferrari.

Mas não vimos nenhuma tentativa mais ousada de Raikkonen tentar ultrapassá-los, nem mesmo menção. Como acontece quando compreende não dispor de carro para fazer muito no GP, o campeão do mundo de 2007 produz para o gasto, sem maiores esforços.

É bom lembrar que Raikkonen começou a corrida na sétima colocação do grid, ultrapassou Massa ainda na largada e com o abandono de Rosberg era o quinto. Perdeu a posição para Massa no primeiro pit stop, volta 11, e depois, quando parou na 25.ª volta, voltou atrás de Jenson Button, da McLaren-Mercedes, que não havia feito ainda o segundo pit stop e estava mais lento.

Com o safety car, Button parou e Kimi voltou a ficar atrás de Massa, que tinha como objetivo ir até a bandeirada com aquele jogo de pneus. Raikkonen alegou não ter como ultrapassar Button e Massa. Apesar de não servir de parâmetro direto, de alguma referência serve o fato de Raikkonen ter recebido a bandeirada 45 segundos e quatro posições atrás de Alonso, com o mesmo carro.

O Raikkonen do Circuito Marina Bay não teve nada a ver com o arrojado piloto de Spa-Francorchamps, quarto colocado.

Nico Hulkenberg – 5

Force India-Mercedes – 9.º colocado

Apesar de ter largado em 13.º, duas posições à frente do companheiro, Sergio Perez, recebeu a bandeirada em nono, mas sem brilho, sem lutar arduamente por nenhuma posição, como fez Perez. Correu como Raikkonen, sem exigir tudo de si e do equipamento.

Não vale dizer que por ter optado por não parar a partir da volta 31, quando fez o terceiro pit stop, tinha de ser cuidadoso com os pneus. Vários pilotos estavam na mesma estratégia. Seu sonho de ser escolhido por uma equipe grande está ficando mais diante de se realizar.

Kevin Magnussen – 8

McLaren-Mercedes, 10.º colocado

Excelente na classificação, nono, diante do 11.º lugar do experiente companheiro, Jenson Button. É um lutador contumaz. Os adversários já aprenderam que para ultrapassá-lo é preciso ir além um pouco do normal. Esse dinamarquês de apenas 21 anos não gosta de ceder a posição e é ousado para ultrapassar, como fez depois da 46.º volta, quando colocou os pneus supermacios para as 14 voltas finais.

Foi sempre duro nas disputas, mas sem ferir as regras. Magnussen está fazendo com que Button, com seus 260 GPs de Fórmula 1, tenha de justificar a cada etapa para Ron Dennis poder ser útil ainda ao time. Será interessante ver como Magnussen se sairá em 2015 com um carro presumivelmente melhor da McLaren-Honda, considerando-se, também, que lá permanecerá, como é provável.