No Texas, um Alonso feliz como poucas vezes se viu
Livio Oricchio
30/X/14
Austin, Estados Unidos
Um Fernando Alonso muito diferente do dois últimos meses. Assim poderia ser definido o piloto espanhol, ainda da Ferrari, em Austin, nesta quinta-feira. Risonho e até brincalhão com o repórter do UOL na entrevista desta quinta-feira no Circuito das Américas, onde amanhã a partir do meio dia, horário de Brasília, começam os treinos livres do GP dos EUA, Alonso falou sobre o que fará da vida em 2015: ''Estão querendo saber o gosto da comida antes de ela ficar pronta''.
Obviamente ninguém queria saber o que ele espera da corrida do Texas no fim de semana, mas do seu futuro. Alonso riu a maior parte do tempo da conversa com os jornalistas. A informação que corre no paddock é que nessas três semanas entre a prova de Sochi, na Rússia, e a de Austin, Alonso e Ron Dennis, seu ex-desafeto, em nome da McLaren-Honda, conseguiram chegar a um acordo.
E a primeira pergunta foi essa, se Alonso já sabia por quem correria em 2015. ''Eu sei, sim, mais ou menos.'' E como está cobrando da Ferrari uma indenização por ter contrato até o fim de 2016 e os italianos já terem assinado com Sebastian Vettel, o espanhol não perdeu a chance de lembrar um repórter que não está fora da Ferrari. ''Isso é você que está dizendo, não eu. O que tenho dito é que minha decisão será a melhor para a Ferrari e para mim.''
Na cabeça de Alonso, comunicar a Marco Mattiacci, diretor da Ferrari, que pretende deixar o grupo não significa rescindir seu contrato. E quem teria agido de forma a não respeitar o contrato seria o próprio Mattiacci, ao considerá-lo fora dos planos, mesmo tendo contrato.
Tudo não passa de um jogo de cena para poder receber o valor da multa contratual que, segundo o espanhol e seu empresário, Luis Garcia Abad, a Ferrari tem de pagar. Algo como 20 milhões de euros (R$ 70 milhões).
Ano sabático, é uma possibilidade?, perguntam a Alonso. ''Um ano parado não me causaria danos. Veja o Kimi, que ficou dois anos fora da F1 e voltou ainda melhor do que já era.'' E então o repórter do UOL desejou saber se a hora que anunciar seu futuro haverá uma surpresa generalizada. Qualquer coisa fora de McLaren-Honda, a única opção possível, a não ser que haja uma mudança repentina nos arranjos já definidos, seria algo inesperado.
Alonso elevou e abaixou as sobrancelhas várias vezes, como que ressaltando o suspense da resposta que daria. ''Quem sabe'', falou em voz lenta e pausada. Gerou risos. ''Não posso afirmar categoricamente nada. Tenho planos muito ambiciosos em mente. Se eles derem certo muita gente vai ficar entusiasmada.''
E terminou o discurso novo, em relação ao que vinha tendo, com: ''Definitivamente quero conquistar o meu terceiro título e tenho certeza de que terei oportunidade nos próximos anos.''
O que muitos profissionais da F1 acreditam é que como Alonso cobra a multa rescisória, a Ferrari espera ele anunciar seu eventual acordo com a McLaren-Honda para ter elementos para não pagá-lo. Quando isso acontecer, eles alegariam que deixou a Ferrari, mesmo tendo contrato.
E só depois de Alonso confirmar seu destino Mattiacci poderia anunciar Vettel. Antes, daria elementos para Alonso poder cobrar judicialmente a Ferrari. Essa seria a razão de dois dos maiores talentos da F1, Alonso e Vettel, não terem sido oficializados por seus novos times.
Tudo isso partindo-se da premissa de que o caminho de Alonso será mesmo o da McLaren-Honda, bem provável, mas não garantido. Sua reação, no Circuito das Américas, deixou muita gente que o conhece sem saber direito o que pensar.